A sincronicidade de C. G. Jung

É importante entender que Jung, além de conceber uma dinâmica versão pessoal da psicanálise, também se interessava profundamente pela natureza espiritual do homem e pelo seu lugar dentro da vasta arena cósmica. Impressionava-o particularmente a evidência das chamadas faculdades paranormais, como telepatia, clarividência, precognição, etc., que a desabrochante ciência da parapsicologia estava começando a fornecer contra a maré da crença corrente. A evidência da telepatia, pacientemente reunida por instituições como a Universidade Duke, na Carolina do Norte, a Universidade de Utrecht, na Holanda, e mesmo em alguns reconhecidos estabelecimentos de pesquisa por trás da Cortina de Ferro, ainda é assunto de controvérsia científica. É suficiente dizer que Jung, como resultado de suas próprias experiências pessoais na prática psicanalítica e em pesquisa de laboratório, convenceu-se da realidade de tais fenômenos, e percebeu que qualquer consideração teórica sobre o modo como o universo funciona ou sobre qualquer modelo cósmico útil teria de ser ampla o bastante para acomodar esses dados.

Entretanto, como a muitos outros cientistas, impressionava-o o que parecia ser uma falha fatal na lógica do trabalho com percepção extra-sensorial: o fato de ela parecer operar de um modo que desafiava as leis-padrão da física e da mecânica, conhecidas até então.

Por exemplo, a distância entre duas pessoas em “contato telepático” parecia ser imaterial – podia ocorrer tanto a milhares de quilômetros como a poucos centímetros. Em segundo lugar, a telepatia parecia ser, em certa medida, tão independente do tempo quanto do espaço, pois havia numerosos exemplos de pessoas tomando conhecimento de acontecimentos que ocorriam no futuro. Jung, homem de mente logicamente consistente, tanto quanto aventurosa, chegou à inevitável conclusão de que, conquanto parecesse haver eventos similares (processos de pensamento) ocorrendo na mente de pessoas separadas num tempo semelhante ou significativamente relacionado, essa similaridade não podia ter se efetuado por transmissão de informações no sentido usual da palavra. Em outras palavras, a telepatia era um exemplo não de comunicação, como muita gente parecia supor, mas de um tipo de correspondência não-causal, porém altamente significativa, na qual eventos fisicamente não-relacionados podiam ser sincronicamente vinculados e analisados dessa forma.

A partir desse ponto de ataque, Jung começou a formular a hipótese de que causalidade não era o único operante em ação no universo, e que um novo conceito, que denominou “sincronicidade”, teria de ser introduzido. Daí em diante, até morrer, Jung procurou dados científicos e filosóficos para outros exemplos de eventos aparentemente sincrônicos, que não podiam ter ocorrido por acaso, e isso o levou ao interesse por dados astrológicos e a uma controvertida experiência realizada com casais.

Um comentário:

Xerxes Lins disse...

Gostei. Simples e didático. Entendi melhor o termo "sincronicidade". Obrigado.