Começa a constituir-se o circuito.

Durante sua infância, a criança com a Lua em Peixes se sentirá cobiçado dentro de uma réplica deste útero maravilhoso. Envolvido por essa bolha mágica jamais se sentirá abandonado, ainda que às vezes pareça solitário e absorvido em suas emoções. Sua enorme sensibilidade o coloca em contato com todo tipo de captação sutil em relação aos lugares, as plantas, os animais, as pedras ou a paisagem. A sua vez, a conexão com a linha materna do inconsciente o permite viver em um mar de estímulos quentes, protetores e nutritivos. Entregando-se as suas emoções, visões e percepções - nas quais é possível discernir entre os contatos reais que sua enorme sensibilidade lhe permite, e sua fantasia - se acostuma ao fato de não ser necessário realizar esta distinção. A biatude deste mundo sem diferenciações é um refúgio seguro e atraente. É possível que outras estruturas da carta, e inclusive aspectos ou oposições por casa da mesma Lua, tragam uma história infantil com perturbações e conflitos, mas a presença desse campo protetor neutralizará todo o sofrimento. Um olhar racional quem sabe diga que estas crianças fogem à realidade através de um mundo fantástico. É certo que o mecanismo desta Lua está ligada a evasão, em sua origem há uma enorme sensibilidade real. Existe um contato pródigo com o vivente e com níveis emocionais individuais e coletivos, assim como um mundo de enorme riqueza onde a diferença entre o captado e o imaginariamente construído é impossível de se estabelecer. Mais ainda, como dissemos, para uma criança em crescimento não é necessário estabelecê-la. Uma coisa é a evasão e outra, muito diferente, é a renúncia a discriminação. Distinguir as construções da fantasia, do que é realmente percebido por uma sensibilidade pouco comum, é o ponto central de compreensão desta Lua.

O contraste entre a dureza do mundo e esse emaranhado de sensibilidade e fantasia será a grande dificuldade a resolver, tanto na infância como mais tarde na vida. O mundo sempre é muito duro se o que está em absoluto é o abraço protetor da mãe universal. A presença da dor, o limite, a violência e inclusive a morte são incompatíveis com esse ambiente ocupado pelos infinitos diálogos com os quais a mãe protege seu filho da crueldade do mundo.

Ali, junto a percepção sutil, estão vigentes todas as imagens e sensações com as que se vem suprindo as necessidades infantis. Nesse universo de prodigiosa fantasia resulta em inumerosa histórias em que “tudo termina bem”, para consolo e felicidade de quem ainda não está preparado para enfrentar o mundo. O sentido profundo da Lua em Peixes é dar a uma pessoa o acesso à essas acumulações de sabedoria maternal, para utilizá-la com os seres que a necessitam. Claro que isso é muito diferente de permanecer passivo nela, constituindo-se no objetivo único dessa ternura maravilhosa. Mas se essa possibilidade existe, não se pode culpar as crianças que nascem com essa Lua quando se refugiam nessas sensações cada vez que o lado duro da vida ameaça sua segurança.

Em sua capacidade para entrar no refúgio desta caverna encantada de infinitas cores - onde existe um lago extremamente calmo - se forma o mecanismo desta Lua. Não é fácil renunciá-lo para aceitar os limites do mundo dos adultos. Menos ainda, seja possível tanta sensibilidade e uma verdadeira devoção pelo aspecto maternal do universo.

Integrar toda essa sensibilidade em uma personalidade madura implica encontrar o limite da absolutização do maternal. Ao mesmo tempo, deseja aprender a confiar em um mundo complexo e articulado no qual a mãe universal é só um aspecto mais, entre muitos outros. Diante de semelhante tarefa, é evidente que o resultado mais sensato é reter essa capacidade de dissociação que lhes permitir recorrer a seus refúgios eternos, onde é possível proteger-se - e proteger os demais - de todo o perigo e dificuldade.

Como dissemos em capítulos anteriores, as pessoas com a Lua em signos de água tendem a construir em seu interior um espaço inacessível. O mundo encantado da Lua em Peixes será impenetrável não só aos estranhos, mas também para os aspectos racionais e discriminativos da própria pessoa. Construiu-se uma zona de embelezamento na qual se desfruta da imensa sabedoria das mães que, como vimos para a Lua em Câncer - é sempre uma zona não verbal. A “mãe” adivinha, comunica além da unilateralidade das palavras.

Por isso suas mensagens são completas, como nenhuma outra experiência na vida. Tentar acalmar essas sensações e ressonâncias, discernir entre o que provém da sabedoria inconsciente ou da sensibilidade, e aquilo que nasce da fantasia e o infantil, é quase um sacrilégio ou, pelo menos, um trabalho excessivamente custoso. Em uma pessoa com a Lua em Peixes pode ser enorme a tensão que existe entre as funções conscientes e discriminativas, e esse mundo milagroso de características mágicas. Geralmente, a tensão se manifesta através da projeção em outras pessoas, que passam a encarnar o lado racional e crítico ou o lado infantil que sonha viver na “terra de nunca jamais”. Seja como for, se trata essencialmente de um diálogo interno em que podem ser consumida muita energia.

Nenhum comentário: