Numa conferência intitulada "Criando uma psicologia sagrada", o psicólogo Jean Houston contou uma piada a respeito da vida de Margaret Mead. Quando criança, Margaret pediu à sua mãe que lhe ensinasse a fazer queijo. A mãe retrucou: "Sim, meu bem, mas você vai ter que ver o bezerro nascer." Desde o nascimento do bezerro até a confecção do queijo Margaret Mead aprendeu quando criança o procedimento completo, do começo para o meio e o final.
O dr. Houston lamenta que sejamos vítimas de uma "era do procedimento interrompido". Nós apertamos um botão e o mundo se põe a girar. Sabemos um pouco a respeito do inicio das coisas, um pouco do final das coisas mas não temos idéia alguma do meio. Perdemos o sentido do ritmo natural da vida.
Nossa cultura atual é intoleravelmente desequilibrada. Antes do século XVI, o enfoque dominante era orgânico. As pessoas viviam junto à natureza em pequenos grupos sociais e conheciam suas próprias necessidades como subordinadas às da comunidade. A ciência natural baseava-se na razão e na fé, e o material e o espiritual estavam inextricavelmente ligados. Durante o século XVII, este enfoque mudou dramaticamente. O sentido de um universo orgânico e espiritual foi substituído por uma noção diferente: o mundo como uma máquina que funciona à base de leis mecânicas e que poderia ser explicado em termos de movimento e encaixe das diversas partes. A terra não era mais a Mãe Grande, sensível e viva mas um mecanismo reduzido a engrenagens e peças como um relógio. O famoso pensamento de Descartes - Cogito, ergo sum, penso, logo existo - provocou uma nítida divisão entre a matéria e a mente. As pessoas passaram a se interessar mais por seu intelecto, deixando o corpo em segundo plano. Fragmentação tornou-se a regra do dia e continua a reinar apesar de os sábios do século XX demonstrarem que relacionamento é tudo, e que nada pode ser entendido isolado de seu contexto.
Ironicamente, a astrologia, o estudo dos ciclos e dos movimentos da natureza, também perdeu seu sentido de procedimento e seu sentimento da integridade orgânica da vida. A visão mecanizada do mundo levou à crença de que a natureza poderia e deveria ser controlada, dominada e explorada. Do mesmo modo, a astrologia chegou a enfatizar a predição e os resultados, em detrimento de uma compreensão do significado mais profundo das coisas. As casas eram descritas por meio de palavras-chave e significados que as faziam parecer não relacionadas umas às outras ou apenas debilmente interligadas. Por que a 2ª Casa, a do "dinheiro, ganhos e posses", é seguida da 3ª Casa, da "mente, meio ambiente, irmãos"? Por que a 6ª Casa, a do "trabalho, saúde e pequenos animais", é gerada pela 5ª Casa da "auto-expressão criativa, hobbies e diversões"? Certamente como o verão segue a primavera e o dia se torna noite, deve haver alguma razão fundamental pela qual uma casa leva à seguinte.
As casas não são separadas, isoladas, apenas segmentos de vida. Concebidas em sua totalidade elas desdobram um processo de maior significado - a história do aparecimento e do desenvolvimento de um ser humano. Começando do nascimento no Ascendente, não temos consciência de nós mesmos como distintos de qualquer outra coisa. Gradualmente, casa por casa, através de uma série de passos, fases, danças e mudanças, construímos uma identidade que pode afinal se expandir para incluir toda a criação. Emergimos de um mar amorfo, tomamos forma e imergimos novamente. Somente apreciado como processo de desdobramento, tanto a vida como as casas preenchem seu significado essencial. Este processo baseia-se no mais profundo da experiência humana. A divisão é só uma parte do ciclo completo e, no entanto, nos prendemos dentro dela. Mas a totalidade é tudo.
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