Casas... (continuação)

Em seu livro A astrologia da personalidade, Dane Rudhyar, um pioneiro na astrologia centrada no indivíduo, propõe que a leitura de uma carta é a leitura do dharma da pessoa. Em trabalho posterior, As casas astrológicas, ele elabora um pouco mais esta afirmação, enfatizando que planetas e signos em cada casa oferecem "instruções celestiais" de como uma pessoa pode da maneira mais natural possível abrir seu plano de vida nesta área de existência. Tanto quanto possível, este livro interpreta os planetas e os signos através das casas sob esta perspectiva. No entanto, além de só indicar o mais autêntico modo de preencher nossas potencialidades intrínsecas, o posicionamento das casas também mostra a nossa predisposição inata para entender as experiências associadas com cada casa dentro do contexto dos signos e planetas que nela se encontram. Por exemplo, uma mulher com Plutão na 7ª Casa está inclinada desde o nascimento a contar com Plutão naquilo que diz respeito a essa casa. E mais: por ser Plutão o que ela espera dessa casa é precisamente Plutão o que ela irá encontrar.

Tudo o que vemos na vida é colorido por aquilo que esperamos ver. Solicitou-se a 28 estudantes que descrevessem o que viram quando um maço de cartas de baralho foi mostrado, uma por uma, numa tela. O que eles esperavam basicamente (ou o que era o modelo orientador) era a opinião prévia de que o maço de cartas consiste em quatro naipes: dois pretos (espadas e paus) e dois vermelhos (ouros e copas). Porém, quando o operador mostrava um seis de espadas vermelho muitos estudantes simplesmente recusavam a evidência que estava diante de seus olhos e convertiam nas suas descrições o seis de espadas vermelho em preto. Explicando melhor: quando o seis de espadas vermelho era mostrado na tela, eles nem notavam a incongruência da carta com suas próprias expectativas de como deveria aparecer um seis de espadas. Eles viam apenas aquilo que esperavam ver, não o que realmente estava sendo mostrado.

De maneira semelhante nossas expectativas arquetípicas, vistas através dos signos e dos planetas nas casas, nos precondicionam a certas maneiras de viver a vida. Portanto, a mulher nascida com Plutão na 7ª Casa vai tomas decisões com relação a associações sob o prisma deste planeta. Nesse sentido, ela está "presa" a Plutão nesta área da vida como a semente do carvalho está presa ao fato de se tornar um carvalho. Nada do que faça pode mudar o fato do planeta estar ali. Porém, se ela se conscientizar de que Plutão é o contexto pelo qual ela encara a 7ª Casa, algumas alternativas, que não existiam antes, se abrirão para ela.

Antes de mais nada, ela pode se perguntar qual a proposta de Plutão na 7ª Casa diante da abertura completa de seu plano de vida. Desta maneira, ela aceita e começa a cooperar com a sua natureza congênita. Em segundo lugar, em vez de culpar a vida ou outras pessoas pelo estado de coisas dessa casa, ela pode tentar entender o papel que ela mesma desempenhou em criar tais circunstâncias. Fazendo isso, estará infundindo maior propósito e significado às experiências de sua vida - que não são apenas acasos que acontecem com ela. Finalmente, se ela puder "usar" Plutão em suas conotações mais construtivas, não sofrerá mais do que o necessário neste aspecto. Por um lado, Plutão implica em derrubar e destruir todas as estruturas existentes. Por outro, representa a transformação e o renascimento de uma maneira completamente nova de ser.

Através da alteração da perspectiva na qual ela vê o que está se passando, ela consegue entender as interferências de Plutão como oportunidades necessárias para crescer e mudar. Encarando de frente e chegando a bons termos com o tipo de traumas associados a esse planeta, ela "modifica" seus planos e percebe que Plutão tem uma dimensão completamente diferente de experiência a lhe oferecer. Ela aprende aquilo que Paracelso observou há muito tempo, ou seja, que "a deidade que traz a doença também traz a cura".

Conhecimento implica em mudanças. Examinando o posicionamento das casas em nossas cartas, não estamos só encontrando pistas para achar o melhor caminho para atingir a vida nesta área; estamos também ganhando introspecção para as expectativas arquetípicas subjacentes que operam dentro de nós. Uma vez que nos tornamos conscientes de que temos uma tendência congênita para ver as coisas dentro de certo contexto, podemos começar a trabalhar construtivamente dentro de uma estrutura, e gradualmente ir expandindo seus limites de modo a permitir outras alternativas. Tendo isso em mente, o leitor pode usar este livro tanto como ferramenta para seu desenvolvimento pessoal como para se guiar na interpretação de uma carta. O significado sugerido para cada planeta e para cada signo através das casas tem a intenção de servir como um esboço amplo e geral que, espero, inspire mais e mais pensamentos e reflexões sobre a natureza de cada posicionamento.

Minhas sugestões não devem ser tomadas como um evangelho ou aplicadas com rigidez excessiva, e peço desculpas pelas limitações do formato deste "livro de receitas". Tenho plena convicção de que cada fator de uma carta astrológica só pode ser completamente apreciado à luz da carta inteira. Ainda assim, a expressão de qualquer posicionamento num horóscopo é ocorrência de certo fator do nível de consciência da entidade da qual deriva.

Uma mulher pode ter nascido na mesma hora, lugar e data que seu cachorrinho, e seus mapas astrológicos seriam exatamente os mesmos; porém, o cachorrinho vai expressar seu mapa de nascimento de acordo com seu grau de conhecimento e, a mulher, de acordo com o seu. Uma vez que nosso grau de consciência tem um papel tão crucial na determinação da "manifestação" e do significado dos posicionamentos num mapa, nenhuma interpretação rígida de qualquer fator pode ser fixada. Cada um de nós é mais do que a soma das partes do mapa. Cada um de nós tem potencial para maior conhecimento, liberdade e realização.

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