A indefinição

Na Lua em Peixes, a dificuldade para dissociar-se da energia materna vai muito além das necessidades de aproximação física típico da Lua em Touro, ou de sua presença afetiva, como em Câncer e ainda da marca de fusão da Lua em Escorpião. Aqui se trata de perder-se, de diferenciar-se por completo de um estado em que não existem distinções. Trata-se de não ser.

O adulto com essa Lua - quando o mecanismo está ativo - põe em jogo um nível de si mesmo completamente simbiótico com o mundo emocional da mãe. O complexo é aqui, que todos os temores e desejos que se apoderam do filho, quem inadvertidamente os toma como propriedade. Pode descobrir que muitas coisas que deseja ou teme, são coisas que sua mãe também havia desejado ou temido, mas que jamais havia manifestado explicitamente. Por exemplo, pode ter sentido desde pequeno terror diante de situações de provas, mas recém vinte anos depois descobre que sua mãe - quando jovem - havia renunciado em prosseguir com os estudos, precisamente por essa dificuldade. Outra possibilidade é que, com a filha a ponto e casar-se, escutou sua mãe dizer: “estou tão contente! Se casou exatamente com o homem que eu queria! Claro que nunca disse nada, não queria invadi-la...”. Sem dúvida, esta mãe colocou um desejo inconsciente muito forte, que não expressa de modo direto e não invade de maneira clara e nítida, o que permitiria a seu filho ou filha - eventualmente - defender-se dele como poderia fazer uma Lua em Áries ou até uma Lua em Escorpião. Aqui se trata de algo tão imperceptível, tão sutil, que a criança segue crescendo “comodamente” dentro desse líquido amniótico estendido. Por isso, se trata de uma questão difícil de rastrear. Se houvesse esclarecimento com respeito “ao que mamãe disse ou pensou”, teria existido mais estrutura ou mais limite no vínculo.

A influência sutil desta identificação inconsciente - que às vezes se mascara sob a forma de uma rejeição consciente - e se tornar independente de uma pauta emocional tão complexa. Por ser a simbiose absoluta a matriz de segurança, mais importante ainda que a discriminação posterior com as emoções maternas é compreender que o mais certo é perder-se em uma sensação de total indiferença.

As situações imprecisas nas quais é possível encenar sem ver-se obrigado a definir e que encerram infinitas possibilidades atualizáveis pela imaginação, são tremendamente desejadas para o mecanismo. A pessoa não sabe bem porque se encontra nessa situação e de um plano consciente afirma querer sabê-lo, mas no fundo ilude todo o esclarecimento. São pessoas à quem as palavras doem porque estas definem, colocam limites, e o mecanismo rejeita as definições e os limites. Na realidade não é uma dificuldade o desejo, como poderia ocorrer em certas estruturas librianas ou nos contatos Marte - Netuno. Aqui se trata de permanecer em uma totalidade, em uma virtualidade gasosa que pode provocar a sensação de ter-se liberado dela. Mas o herói que liberta a bela adormecida ou o resgate da prisão, do labirinto, forma parte deste mesmo sonho.

Muitas vezes é difícil para os demais compreender os módulos de uma Lua em Peixes em determinadas situações. Não é fácil suspeitar que só se movem naquela direção que permitem sonhar mais e melhor, sorteando quase que sonambulamente os esforços dos outros - e inclusive as exigências de seu próprio nível consciente - para chegar a uma definição.

A vida, cedo ou tarde, produz definições que podemos supor que raramente são as que deseja uma Lua em Peixes. É possível que reconstitua com velocidade outro campo de encantamento; de qualquer maneira, se o golpe é muito forte, se fechará em si mesma até perder a melancolia e a depressão.

Este é quem sabe, um dos pontos que mais ocorrem no mecanismo porque - como a dissolução está ligada ao estado de máxima segurança - deprimir-se ou ficar melancólico são formas de sentir-se protegido.

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