Associações afetivizadas, mecanismos

A chave do mecanismo é a negativa inconsciente a discriminar dentro da sensibilidade. Isto se mascara com um conflito externo no qual se busca a hegemonia de um ou outro aspecto: lógica vs. Sensibilidade, realidade vs. Magia, subjetividade vs. Objetividade, trabalho vs. Poesia... Qualquer dos termos pode “ganhar” e muitas vezes uma Lua em Peixes oscila toda a vida nesta dualidade, através de diferentes níveis. Mas em todo o caso se conserva a absolutização da sensibilidade lunar, que se nega a ser examinada e verificada em um diálogo com as outras funções. No estado primário da Lua em Peixes, não se trata de um adulto que recusa a capacidade e o sentido de registros diferentes, e sim de uma criança assustada a quem o adulto severo pretende convencer racionalmente de que as fadas não existem. Compreender como se guarda uma criança mágica, que se nega sistematicamente a atravessar as desilusões do crescimento, é aqui o primeiro passo. Como sempre, isso não dependerá de um ato da vontade. O destino mesmo - ou a circulação da energia que procura a síntese - cria situações que possibilitem elucidar o mecanismo, sem negar as qualidades lunares. Mas nada garante que essas experiências não repitam o circuito infantil e reforcem o ato de refúgio.

A presença da proteção mágica é o refúgio, porque satisfaz o infantil de uma realidade autônoma a respeito das vicissitudes do mundo concreto. Daí que “o lago encantado” se faça inacessível as funções racionais. Esse mundo cheio de imagens e sensações está além das palavras e a verificação, envolvidos pela mãe, não necessitam falar. Sua sabedoria infinita se expressa pelo contato, através dos sonhos e dos milagres, com as mensagens da sincronicidade, com o registro da inacreditável pureza da vida, que nenhum fato “objetivo” pode manchar.

Grande parte dessa informação é provavelmente válida mas também confusa. O mecanismo da Lua em Peixes tem por traço característico negar o acesso a esse ambiente, por parte das funções arquetípicas “masculinas” do limite e da discriminação porque, se entrarem, romperiam o encantamento. O mecanismo não consiste em utilizar criativamente os dons dessa sensibilidade, e sim procurar que esse mundo encantado permaneça intocável às desilusões da vida.

Isto provoca habitualmente uma forte introversão, que impede os demais acessar os mundos internos e as emoções mais profundas da pessoa com essa Lua. Ela acentua assim a dificuldade real de sua verbalização permanecendo no ambiente da comunicação simbiótica, que é a matriz de segurança. Estabelecer vínculos sem essa magia a obrigaria a confiar em funções trabalhosas, não precisamente milagrosas. Tanto com os outros como consigo mesma este funcionamento a leva, inevitavelmente, a confusão e idealização. E sobre tudo, o hábito de iludir sistematicamente as ocasiões esclarecedores de situações em que se tenha projetado esse mundo infantil.

É pouco provável que a Lua em Peixes queira falar de seus verdadeiros problemas, particularmente os homens, que ocultam seu mundo de fantasias mostrando uma máscara dura, fechada e silenciosa que muitas vezes confunde.

Dificilmente se entregam, ou esclarecem as dificuldades de suas vidas e suas perturbações internas porque “esclarecer” - isto é, levar a ordem à este mar de sensações imaginárias - é experimentado como um sacrilégio que rompe a totalidade da vida perfeita na “mãe universal”. É muito difícil, por tanto, enfrentar o mecanismo desta Lua, porque a pessoa sente que destruirá algo de estranha pureza e raramente está disposto a fazê-lo.

“Protegemos a criança da dor e sofrimento”: esta é a voz das mães, maravilhosamente certas quando à criança real se refere. Mas no ambiente do mecanismo, a pessoa não adverte que atrás essa imagem de sabedoria maternal se oculta a criança eterna.

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