Começa a constituir-se o circuito

Esta posição lunar mostra alguma analogia com a Lua em Leão, sobre todo o sentido de oferecer um contato espontâneo com a abundância, a vitalidade e uma sensação de confiança básica na vida, como um dom natural de nascimento. Assim como a Lua em Leão o conjunto afetivo permite a pessoa uma forte valorização de si mesmo, que operará como base emocional para todas as experiências posteriores, a sensação de vitalidade e abundância da Lua em Sagitário fornece uma “base” para a vida. Em afeto, estas pessoas partem com uma confiança elemental na existência, que nada fará com que acabe. Obviamente não é a mesma constituição psicológica que predomina na ambivalência vida/morte - como acabamos de ver no capítulo anterior - que traz a sensação de que “sempre haverá abundância e bem estar...”. Mas, por certo, a dificuldade psicológica provenha neste caso do modo como se articula o inconsciente esse “sempre”. A força da Lua e sua correlação com a dependência emocional - à respeito dos padrões estabelecidos na infância - faz com que esta liberdade e otimismo se convertam em condições necessárias para sentir-se seguro e protegido.

No futuro, quando a criança com a Lua em Sagitário se torna um adulto, necessitará de que não exista nenhum conflito em seu horizonte para não experimentar o temor. O hábito infantil de dispor de liberdade e abundância, de sentir-se sempre vital e de bom humor, faz com que, em situações onde existam adversidade - associadas à frustrações, conflitos e dificuldades - sejam vividas como duplamente ameaçadoras e perigosas. Por um lado o serão por si, como seriam para qualquer um, mas por outro a restrição, a acumulação de dificuldades ou a dor constituíram para eles um contexto quase incompreensível, algo ao qual não estão habituados. Mais ainda, a mera possibilidade de que ocorram fatos frustrantes e dolorosos, está praticamente excluído de sua matriz básica.

Enfrentar essas situações, por conseguinte, implicará numa forte desilusão, uma queda do imaginário infantil que levará a pessoa a sentir-se desprotegida e vulnerável, muito mais além da envergadura real do que está acontecendo. Como em toda a estrutura lunar, a ausência das condições em que a Lua tenha se fixado e experimentado como vazio emocional gera temor, quando se enfrenta o desconhecido em uma situação que não oferece garantia afetiva alguma. Desta maneira, quanto mais difícil - em termos objetivos - se coloca na situação, mas a pessoa fica atemorizada, isto gera a necessidade de que tudo volte a se acomodar positivamente e a fluir sem obstáculos, com a pressa que a vida - e o resto de sua carta natal - não permite.

Aqui é onde se gatilha o mecanismo pelo qual buscará quase com desespero as condições de liberdade, espaço e possibilidade ideais com as quais está acostumado a tranqüilizar seu mundo emocional. Para aliviar a sensação de desproteção, esta pessoa irá impor-se quase automaticamente, uma atitude em que todos os problemas venham a precisar, na realidade, de importância e possam ser resolvidos com facilidade. Mais ainda, como não irá querer ter problema algum o simplificará racionalizando-os em excesso, idealizando situações, negando a profundidade dos conflitos ou também tomando distância e fugindo deles através de uma viagem ou outra atividade, que lhe restitua a sensação da qual está acostumada. Assim como pessoa com a Lua Escorpião gera inconscientemente situações de fusão e conflito - porque é isso o que conhece como seguro - se tem a Lua em Sagitário será necessário, no contato, experimentar a sensação de que “está tudo maravilhosamente bem”. A segurança se associa com o bom humor constante, com a alegria e inclusive com a despreocupação. Mas o contrário, a dureza da realidade e sua confrontação com ela a desilude profundamente e a faz sentir indefesa. Diante disso, a reação automática será afirmar que “não acontece nada, tudo está bem”.

Na realidade a Lua em Sagitário está atada as sensações de liberdade e abundância, sem advertir que depende delas. Uma imagem que revela a natureza da liberdade, para o inconsciente desta Lua, é a de “cão de campo”. Sujeito a um longo arame pelo qual desliza correndo feliz de uma ponta à outra, desfrutando de uma sensação de liberdade quase ilimitada, enquanto na realidade permanece em cativeiro.

De maneira semelhante, o hábito psicológico da Lua sagitariana necessita uma presença que garanta a liberdade e, por suposição, a “mãe”- isto é seu mundo familiar - é o que lhe assegura essa abundância e fluidez. Estas sensações não aparecem então como possibilidade real ou como confiança interna, e sim como uma necessidade que “deve” ser satisfeita, isto é, como uma suposição da existência. Sua ausência torna a pessoa transtornada emocionalmente e, em conseqüência, os níveis dissociados procuram voltar a proteger-se em um mundo em que algo ou alguém garanta que tudo vai ser resolvido.

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