O nascimento do Herói Solar

O Herói nasce de maneira estranha, geralmente é fruto da união entre um deus e uma mortal. Em alguns casos como do herói grego Aquiles, isso se inverte, seu pai era o mortal Peleu e sua mãe a deusa do mar Tétis. Na infância o herói não faz ideia de quem sejam seus pais verdadeiros.

Ele se acha igual a todos, mas incomoda-lhe a sensação de que é diferente e possui a intuição de um destino especial. Um dos principais temas da jornada do herói é a descoberta de sua verdadeira origem, que é a um só tempo mortal e imortal. Nessa imagem mítica do nascimento híbrido, podemos notar um profundo sentido de dualidade, a convicção de que não somos apenas feitos de terra e fadados a comer, procriar e morrer. Cada um de nós é especial, único e tem um destino pessoal, uma contribuição individual a dar para a vida.

Muitas crianças possuem a fantasia de que são adotadas, ou que um dos pais é especial, divino. Essa fantasia é tão comum entre as crianças que só se pode presumir que seja um arquétipo. É um dos pontos pelos quais o mito penetra na vida humana comum, antes da realidade massacrar o mundo imaginário da criança.

Nossa análise do Sol pode de início, expressar-se nessa primitiva fantasia do progenitor desconhecido ou misterioso, ou ainda de um destino “superior” a nossa espera. Nossa faceta solar não se sente sujeita aos mesmos ciclos lunares e leis do destino a que se submetem nossas emoções e corpos.

O Sol não está preocupado com o mundo concreto como meta final. A realidade material é domínio lunar, e o que imaginamos como nossas metas na primeira metade da vida é apenas o conjunto de necessidades lunares, traduzindo-se em termos materiais. As metas solares são interiores, dizem respeito à auto-realização e à experiência da vida como algo especial e cheia de significado. Essas metas são muito difíceis de definir e variam de pessoa para pessoa quanto ao tipo de expressão interior de que precisam. Sócrates dava a essa misteriosa força propulsora interior o nome de daemon, o destino impele o indivíduo a se tornar seu próprio ideal.

Outro elemento importante da infância do herói solar é o fato dele geralmente ser invejado ou perseguido sem saber o motivo. Às vezes o inimigo é o marido da mãe. Às vezes é um rei perverso e usurpador que ouviu falar de um augúrio ou profecia e teme ser destronado pelo herói em idade adulta. Esse tema está presente nas histórias dos heróis Perseu e de Jesus, o qual quando criança foi perseguido pelo Rei Herodes.

O Sol é especial e a expressão da natureza especial costuma despertar uma inveja destrutiva nos outros. Se o Sol fica inconsciente, ele pode igualmente atrair a inveja destrutiva dos outro para si. Sempre que exploramos um mito, podemos ter a certeza de que encontraremos a presença desses elementos em todos os aspectos da vida humana comum.

Esse problema arquetípico da inveja e da perseguição de potenciais solares, que pode ser visto em ação em um grande número de famílias, é uma das razões pelas quais muitas pessoas possuem dificuldade em expressar seu Sol. Temem que se manifestarem seus verdadeiros “eus”, os outros irão reagir com raiva e atacá-lo, verbal ou emocionalmente. Geralmente o pai ou a mãe real de uma pessoa fez exatamente isso, inconsciente, pois a vida solar não-vivida do progenitor se tornou amarga e invejosa, e a pessoa tem a experiência direta da infância de perseguições do herói mítico em sua própria fase de formação.

Nenhum comentário: