A "mãe"

Do ponto de vista dos traços concretos, o cenário que corresponde à esta Lua - como nas restantes - deve ministrar necessariamente os elementos que expressam seus traços. Haverá por tanto uma mãe muito presente, carinhosa e terna, muito protetora, mas que não será vivida como mandona e de modo algum aparecerá como asfixiante, como assim acontece com a Lua em Escorpião. Esta mãe se complementa com uma forte presença familiar na qual está muito enfatizada a presença da tradição. Não se trata da família ser portadora de um poder ou de algo em especial, e sim tão só de uma identidade que se sustenta na unidade de todos os seus membros. Sabe-se que pertence a uma história, a sonhos e laços compartilhados, cuja presença leva a segurança e identidade e, vice-versa, a ausência destas substâncias afetivas compartilhadas, com suas imagens e inclusive com suas ilusões, será vivida como desamparo e desproteção.

Esta Lua pode estar acompanhada de uma identidade paterna que não consegue transmitir suficiente solidez e auto-sustento para cortar o embelezamento da mãe e a pretensa família. É dizer, é raro que o pai abra caminho para o filho até o mundo exterior. Esta insuficiência da função de corte com a simbiose materno-familiar faz com que mais tarde lhe seja difícil enfrentar as exigências do social. Então buscará, consciente ou inconsciente, âmbitos contidos ou que lhe dê uma grande sensação de pertencer à ele, que lhe permita recriar a sensação de incondicionamento afetivo de sua origem. Este padrão de saída levará, cedo ou tarde a desilusão dessa incondicionalidade enlaçada, fazendo com que a pessoa se proteja excessivamente em mundos fechados ou tenha que tornar-se rígida para enfrentar o mundo, com o devido custo emocional.

Aqui se estabelece um vínculo simbiótico muito forte com a mãe ou com quem a substitua, pelo menos nos primeiros anos. Como dissemos, isto não está ligado ao sensual e a forte presença corporal e nutritiva da mãe, como ocorre com a Lua em Touro, e sim a sua presença afetiva, ao forte apego a proximidade emocional da mãe. Às crianças com a Lua em Câncer podemos ver fixados literalmente ao colo da mãe, carregados pela sua mãe e buscando permanecer sempre ao seu alcance. É muito visível quando são pequenos, o pânico que lhe produz a indisponibilidade de sua mãe, ainda que seja momentâneo. Isto não acontecerá com a Lua em Áries ou em Gêmeos, como já foi visto, onde a distância faz parte do padrão. A criança com a Lua em Câncer não será fácil, por exemplo, passar uma noite fora do âmbito familiar, quando registra com muita força a ausência da energia protetora que surge dos “seus”. Durante o estágio lunar de sua vida descobrir outros ambientes, novas relações com os mundos estranhos não significa para ela incentivo nenhum, e por isso na infância insistirá em levar os amigos para brincar em sua casa. São comuns, nesta Lua, os casos de “mamadeiras eternas” e pode ser difícil deixar a chupeta. É perfeitamente possível vê-los - inclusive já na escola primária - tomar o leite achocolatado da merenda em mamadeira, diante do resto dos coleguinhas que há muito tempo o tomam em copos.

Creio que isto é um assunto para os pais, mais que dá criança. É fazê-la cair no ridículo.

Bom, esta visão é próprio de uma Lua em Leão. Uma Lua em Câncer seguramente sentirá como muito comovedora e terna esta cena.

Quer dizer que este tipo de criança pode ter logo problemas de integração com o meio porque os pais não souberam como atuar com ele? Qual seria a maneira adequada de tratá-los, conhecendo seu tipo de energia lunar?

Em astrologia devemos levar muito à sério que os pais são uma manifestação da energia da criança e vice-versa. A presença deste suposto “excesso” de mimos e simbiose acontece porque está na criança a qualidade que a leva a atravessar esse tipo de experiência. O comportamento espontâneo da família gerará esses traços e acredito que pretender evitá-los - como se um estivesse fora da situação - impede a compreensão da natureza profunda da criança e a estrutura de destino compartilhada. Nos movemos em uma marco cultural que nos inclina a responsabilizar nossos pais por grande parte de nossas desgraças e limitações. Acredito que para entrar profundamente em astrologia e nos entregar a revolução que chega explícita, tenhamos que ampliar esta perspectiva. Dado um certo nível de evolução da humanidade em que Câncer se manifesta desta maneira, Sagitário de outra, e assim com todas as energias do zodíaco, cada um experimentará o que lhe corresponde experimentar e não outra coisa, especialmente nos primeiros anos de vida. Desenvolveremos mais a fundo isto quando estudarmos a Lua em Aquário e contarmos com mais elementos para análises. O ponto não é tentar deixar de ser a mãe que é para que a criança “seja outra coisa”, pelo fato de já ter estudado astrologia. Acredito que o essencial é deixar-se guiar pelo estrito sentido comum e gerar um clima afetivo que não tencione excessivamente esta criança, evitando antagonizar as energias que estão presentes em sua estrutura e das quais nós somos sua expressão. As fragmentações internas de cada um dos participantes da família - dos pais, por exemplo, e seus conflitos externos, discussões, brigas e desencontros, constituem as dissociações do campo integrado que simboliza a carta natal da criança, que mais tarde desenvolverão um forte jogo de luz e sombra para ela. A maior fluidez da energia da carta de uma criança depende decisivamente de que seus pais compreendam a si mesmos e compreendam a estrutura familiar - de destino - que formam.

Então, voltando ao que dizíamos, esta energia materna associada a Lua em Câncer não comanda nem manipula. Gera uma forte dependência, é certo, mas o faz através de uma afeto genuíno, não há ali uma mãe que deseja “algo mais”, por trás de seus gestos de proteção, ainda que as Luas em Escorpião custe a acreditar que isto seja possível...

A mãe, o pai, o núcleo familiar que corresponde, brindam afeto e carinho sem que apareça nenhuma sensação consciente de comando ou de perigo atrás dos cuidados, como seria o caso da Lua em Escorpião. Ao contrário, que a mimem, a queiram, a abracem, que compartilham o tempo com ela, imprime na criança segurança. A Lua em Câncer tomou isto como algo muito natural e a fantasia de que logo lhe pedirão algo ao contato, diretamente não tem cabimento neste circuito. Esta Lua, por tanto, outorga uma base afetiva muito sólida na infância; a dificuldade não reside na qualidade do afeto e sim na possibilidade posterior de não identificação dessa simbiose e não ficar atrapalhado no mecanismo da dependência.

Mas precisamente por tudo isso, largar a chupeta ou ser desmamado é todo um trabalho para estas crianças, já que se trata de um sistema energético em que não há corte possível com “a mãe”. Os carinhos são fundamentais porque não tem importância se na vida real, por outros fatores do complexo lunar, perdeu sua mãe na infância ou foi órfão. Sempre encontraremos uma tia, uma avó ou uma irmã maravilhosa que a recriam e uma cadeia de figuras maternais-familiares que preencherão este espaço.

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