Dependência da permanência.

Esta disposição basicamente afetiva é o tesouro desta Lua. O problema surgirá quando a necessidade de energia afetiva se converte em um hábito e essa alta sensibilidade emocional protetora se transforme na condição de segurança. É evidente que se esta pessoa - já em sua idade madura - segue associando a segurança e afeto com a particular qualidade emocional que é própria do que necessita a criança, estabelecerá relações de dependência contraditória com outras energias de sua carta natal.

O talento afetivo se transforma em uma desmedida necessidade de pertencer e proteção e o mecanismo básico será garantir-se sempre este tipo de afeto, ligado a estreita intimidade. São pessoas que sabem como fazê-lo, porque possuem esta qualidade, isto lhes recorta o raio de ação, reduzindo-as à habitar os pequenos espaços em que é possível desenvolver este tipo de contato estreito.

A dependência do afeto maternal e envolvente os obriga de forma inconsciente a uma posição em que “sempre vou ser o filho, sempre estarei protegido, sempre alguém vai cuidar de mim adivinhando toda a minha ternura, vulnerabilidade e potencialidade, ainda que não me mostre nem me ponha a prova no mundo...” A outra face desta tendência simbiótica é que se verá obrigado a evitar todas aquelas situações onde sinta a ausência desta qualidade. A chave é perceber o mal entendido deste circuito, que ao eternizar uma situação que foi real na infância, faz com que a pessoa se anule e se reduza à poucos vínculos entranhados dos quais depende enormemente, diminuindo sua perspectiva do que está fora. O mundo externo, ou seja, o resto das energias de sua carta, sempre é excessivamente para este nível que a sucessão de acontecimentos a leva, sem que se de conta - por exemplo se o Sol está em Aquário ou Sagitário - a se condicionar nesta desmedida busca de proteção.

O paradoxo tem a ver com a solidão: no interior protegido nunca está só, subjetivamente, mas é provável que se esteja rodeado de ilusões protetoras, que à leva a diminuir o mundo real no condicionamento da subjetividade.

Não mostrar seu mundo emocional equivale a negar sua condição de água?

Não se trata simplesmente de se mostrar. Na realidade o mecanismo destas pessoas faz com que fiquem fechadas dentro de um mundo interno. Neste sentido, “se amo o oásis”, querer “tirar água deste oásis” é uma profanação. Por isso, confiar à alguém o que está acontecendo interiormente representa um esforço tremendo. Em geral, para estas pessoas é muito fácil exteriorizar suas emoções cheias de ternura, carinho e vulnerabilidade; as mostram “só em família” ou em ambientes onde se sintam intensamente protegidos ou muito queridos. Fora disto, possivelmente se comportem como um caracol e mostram um lado mais duro e defendido, sobre tudo nos casos dos homens.

Então, “só o digo a mãe”...

Sim, mas na realidade esta já sabe, de modo que não precisa dizê-lo, não são necessárias as palavras e tão pouco as classificações. Mas além das possíveis dificuldades no vínculo - que muitas vezes ficam salvas por sua ternura e sensibilidade - o verdadeiro problema desta pessoa é conhecer a si mesma. Sua fantasia inconsciente lhe disse que é a mãe - ou quem se projete esta qualidade - quem sabe tudo acerca dele. Esta fantasia faz estas pessoas muito reticentes em desenvolver uma capacidade de introspecção e autoconhecimento. Se lhes dificultam penetrar na trama de suas próprias subjetividade, lhes causa repúdio fazê-lo e é vivido como algo desnecessário. Porque se estou aderindo a sensação interna de que “sou entendido e adivinhado” cada vez que seja necessário, como posso saber de mim?...se deleguei completamente esta função. Assim é como resulta difícil à estas pessoas ir a fundo na compreensão de seu mundo emocional mais complexo. Não querem expor-se nem confrontar-se com ele porque ali se sentem muito vulneráveis em relação a si mesmos, é dizer, em relação ao resto de sua estrutura.

Isto pode estar inclusive idealizado a partir do próprio talento, no sentido de que a emoção resolve o mundo da própria emoção e não através de outros canais. Mas recordamos que o mundo emocional que estamos falando é de uma criança com os olhos fechados, que imagina o universo e ilude a si mesmo com histórias, mitos e ilusões familiares que, por ser compartilhadas, lhe conferem segurança. O hábito de imaginar o mundo em vez de enfrentá-lo tende a repetir-se e reforçar-se porque - obviamente - a realidade nunca coincide com este refúgio superprotegido e cheio de sonhos.

É de se supor que se trata de pessoas altamente suscetíveis...

Sim, são pessoas muito fáceis de iludir. Claro que esta dificuldade com a dureza do mundo pode ser muito contraditória com o resto da carta. Pensem por exemplo em alguém com o Sol em Áries, - ou em Capricórnio, Leão, Aquário, etc, - e com a Lua em Câncer. É alguém que em princípio desconhece sua natureza temerosa e sua necessidade extrema de proteção.

Inconscientemente buscará refúgio em âmbitos e situações onde possa projetar seu imaginário materno, sem advertir a dependência que estabelece com essas pessoas e cenários. Como para sua Lua os mundos impessoais são aterrorizantes, se verá levado a trabalhar em lugares onde possa projetar a existência de vínculos muito pessoais, ainda que mais tarde descubra que estes não eram assim. Por exemplo, buscará instituições, empresas familiares ou atividades que lhe proporcionem um contorno em que possa imaginar que faz parte de uma família e que compartilha o carinho de uma permanência incondicional. Não só quer ser conhecido e querido por todos, mas supõe que tem de ser tratado com a mesma consideração, pois faz parte de uma família real. Pode permanecer indefinidamente ali, onde conseguiu isto, ainda que isso dificulte a sua expressão, sua criatividade ou seu crescimento. Se o conhecem há muito tempo e lhe tratam como membro da família, porque trocar isto por outro lugar onde não o conhecem em que se sentiria desamparado? E desta maneira, sempre por razões similares, a pessoa com a Lua em Câncer vai ficando estagnada em situações de extrema inércia afetiva.

Na verdade não se trata do medo do contato - como ocorreria com a Lua em Touro - e sim de ter definido um mundo emocional muito pequeno e de não poder tolerar a ausência desta sensação de pertencer e segurança. Por outro lado, o fato de que isto ocorra inconscientemente, obviamente - a dificulta. É possível que um ariano com a Lua em Câncer se arrisque e fique muito exposto em muitas ocasiões, mas sua identidade lunar, ao sentir-se muito desprotegida, o fará fixar-se inconscientemente em vínculos e situações que terminarão por impedir suas iniciativas mais autênticas. Isto se completa com a dificuldade para enfrentar o mundo como ele é com sua tendência compensatória, a fantasia de que em algum momento o fará com êxito. Cedo ou tarde ficará demonstrado que se tratava de uma ilusão.

Ainda que estas pessoas se movam em mundos muito fechados, constroem constantemente grandes projetos e imaginam contatos extraordinários. O traço mais infantil deste mecanismo lunar é o de perguntar-se “que vou fazer quando crescer...?”. Isto é: a sensação de que quando quiser ir mais além dessa situação segura, poderá crescer e se lançará a demonstrar toda a sua potência. A negação da realidade e a dificuldade para estabelecer relações objetivas, é o que faz com que estas pessoas demorem muito em desenvolver todo o seu potencial.

Mover-se em contextos impessoais implicará tolerar uma sensação de vazio muito grande para esta Lua e, como geralmente para obter segurança no contato, impregnará em sua fantasia os vínculos relativamente impessoais de familiaridade. Esta ilusão acerca de uma afetividade que não é real pode trazer-lhes muitas dificuldades. Quando está na oficina de seu chefe, por exemplo, imagina que está em família, com seu pai ou seu tio. Esse imaginário o faz sentir-se seguro, só termina quando o chefe começa a comportar-se com critérios puramente profissionais. Aqui a pessoa já não compreende o que acontece e se sente preterida, maltratada e inclusive traída, porque o outro não correspondeu a seu contexto imaginário. Isto acarreta um grande número de equívocos e de situações dolorosas, em que a Lua vê confirmada sua fantasia de dureza do mundo.

Se não há possibilidade de “familiarizar-se”, esta Lua faz com que a pessoa se retraia e inclusive fuja de algumas situações, quando o mecanismo está muito ativo. Ter que tomar decisões taxativas, circular por mundos objetivos ou por ambientes impessoais, a tencionam muitíssimo. Esta Lua não poderá aceitar nem compreender jamais, por exemplo, que numa oficina seja necessário despedir alguém por necessidade de racionalização e não por problemas pessoais. Para ela, sempre cabe fazer uma exceção baseada em questões afetivas, porque qualquer decisão deveria estar mobilizada sempre pelo afeto. Então reduz as possibilidades de interação real para estas pessoas, quando a Lua não está integrada corretamente com o resto do sistema. A quantidade de garantias afetivas que necessita para tomar decisões, atualizar e realizar contatos é, em muitos casos, excessiva e por isso pode permanecer em situações estancadas. O fato de colocar tudo como afeto os leva a estabelecer vínculos simbióticos, com um apego desmesurado por marcos substitutivos do familiar, onde podem imaginar a presença de um afeto incondicional.

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