Na realidade, são Lua em Escorpião a mãe judia, a italiana, a espanhola...

Esta é, em definitivo, uma estrutura coletiva. Em muitas culturas podemos perceber este padrão afetivo, onde o afeto é sufocante e capaz de inibir toda a individualização. É também a estrutura da máfia: “te damos tudo o que necessita, contanto que nos entregue tudo de ti”. É o poder do clã, fora do qual não se é nada, ainda que dentro dele a absorção termine destruindo-o. Este é o pacto emocional profundo que está na base afetiva da pessoa com a Lua em Escorpião e que tenderá a influir no futuro de seus vínculos: “te dou tudo, mas exijo que me dê tudo ao contato”. É dizer, que o afeto é imaginado com a fusão total e, por tanto, totalmente contraditório com a liberdade.

Uma vez que o mecanismo se coloca em funcionamento, esta pessoa sentirá que se pede algo - ou se alguém lhe dá - fica comprometida a dar tudo: se trata do movimento circular de duas estruturas simultâneas. No nível inconsciente se articula um “acordo tácito” pelo qual o contato deve cumprir-se em todos os vínculos afetivos destas pessoas. Em um jogo no qual a Lua em Escorpião dá o que não se pediu, para assim obter o que nunca se viu obrigada a pedir.

Podemos ver que aqui existe uma estrutura complexa, da qual a pessoa é consciente de maneira parcial e só em seus aspectos mais superficiais. Tomar consciência da totalidade do mecanismo pode ser muito doloroso, mas inevitavelmente terá que reconhecer em si mesma uma modalidade inconscientemente manipuladora.

Esta posição infantil parte do gosto de ter garantido de forma imaginário tudo o que é necessário, permanecendo, no contato, nesta trama de afeto e fusão. El algum momento, esta atitude absorvente se projetará sobre algum indivíduo ou grupo - experimentando a sua vez o sufocamento desta demanda afetiva - mas é raro que a pessoa seja consciente de todos os benefícios que obtém no contato. Inversamente, pode estabelecer relações de muita intensidade e muito amorosas - por exemplo, com os filhos, no trabalho ou em grupos - em que se entrega totalmente e dá tudo o que tem, visualizando-se como a que dá e nutri todos os demais. Nesta posição complementaria, não é fácil dar-se conta que, como compartilha, exige uma entrega total por parte dos beneficiários de tal “generosidade” e que, por outro lado, é muito duvidoso que o que dá, seja realmente o que os demais necessitam. De maneira passiva ou ativa, se repete o circuito de identificação inconsciente deste desejo, pelo qual nestes vínculos não há outro real que possa pedir, receber ou dar, espontaneamente.

Nesta trama nunca há na realidade um intercâmbio claro; tudo se move em uma base implícita e pela suposição de que se entrega algo, receberá outra em troca, mas sem fazer jamais este acordo.

Como se vê, trata-se de um pacto bastante comum em muitas famílias. A partir daí. Dar é automaticamente receber e quem mais se “entrega” tem garantido a obtenção do que necessita, no momento que o deseje: os outros estão obrigados a dar-lhe, posto que assim se definiu, implicitamente, o pacto emocional. Toda contrariedade é entendida como traição e, por isso, o jogo espontâneo de dar e receber se converte em uma trama intrincadíssima de transações não explícitas, queixas, brigas e reclamações. No fundo este padrão mostra uma posição muito infantil segundo a qual “dou, porque assim também vão me dar”, sem ter que molestar ninguém em explicitar seu desejo. Daí que o que se obtém desta forma possa ser destrutivo ou alienante, porque a pessoa não sabe como descobrir nem julgar seu desejo de maneira autônoma.


Por outro lado, entre essas correntes invisíveis de desejo de fusão, a pessoa com a Lua em Escorpião sentirá que se recebe dos outros fica obrigada a entregar-se ao desejo dos demais. É típico que diante de uma amostra generosa e abundante de afeto, a pessoa fique muito perturbada e tenda a sair do vínculo. Para quem não compreende o código, esta reação pode parecer surpreendente, mas, na realidade, o mecanismo lunar acaba por dizer: “se aceito isso, vão me pedir algo em troca”. Deste modo, a pessoa faz o movimento completo: constantemente está dando e pedindo, mas no fundo não quer receber, sendo que seu padrão mecânico lhe indica que o afeto corresponde a dar tudo, quando alguém pede algo sente que não pode dizer que não.

Um traço típico é sentir-se mandado ou obrigado pela exigência dos demais, sem saber como sair da situação em que se sente comprometido.

Isto mostra o caráter regressivo do mecanismo porque, de resto, a pessoa não distingue entre ordem e pedido. Um pedido se transforma imediatamente em exigência porque neste mundo infantil está obrigado a responder, e não fazê-lo é uma traição. Do mesmo modo, é incapaz de pôr-se em uma posição adulta e enfrentar a demanda dos outros: inconscientemente o autoriza a comportar-se como uma criança demandante que exige contínuas satisfações, daí onde não tenha ocorrido acordos de nenhuma ordem nem compromissos definidos. Mas, para o mundo da Lua em Escorpião, no nível inconsciente o pacto se produziu porque, se há vínculo, há acordo, isto é, identidade de desejo.

O traço é que quando o mecanismo se dispara, já não é possível para estas pessoas por um limite nos demais, porque sentem que se o fizeram perderão absolutamente o afeto que os une. Pôr limites implica cortar a fusão e isso significa perigo. Quando alguém com a Lua em Escorpião leva luz aos acordos subjacentes em um vínculo, explicitando o que está disposta à dar, o que pretende na relação e estabelecendo limites precisos, já estamos completamente fora do mecanismo, mas esta atitude o obrigará a atravessar o desconhecido. Se tem terminada a fusão e, em conseqüência, se desvaneceu a intensidade do vínculo em que “não necessitamos aclarar nada porque éramos idênticos”. Não será fácil seguir experimentando afeto onde não existe aquela intensidade, posto que precisamente este era o hábito.

Podem ver que dentro do mecanismo, as únicas posições possíveis para não ser devorado pelo próprio anelo de fusão - projetado nos demais - consiste em retrair-se e converter-se em inacessível ou escapar.

Nenhum comentário: