O “Bonsai” ou o desejo recortado

A sensação psicológica da pessoa instalada no mecanismo da Lua em Áries é a impossibilidade dos demais deixarem-na tranqüila por muito tempo. Alguém do seu campo afetivo irá invadi-la e ser ostensivo. Por isso, mantém distância e sobretudo, mantém a iniciativa em todos os terrenos. Sempre quiseram algo dela, impedindo-a de fazer o que queria, sempre se viu obrigada a mover-se em uma marca cheia de critérios e muito explícito que não deixaram alternativas, e essa presença da ação e o desejo penetrante dos demais lhe foi configurado.

E neste sentido, toda a Lua em Áries é um “bonsai” uma dessas árvores japonesas, que podam encima e em baixo, para que não possam tomar a forma e tamanho naturais, mas sim as que o jardineiro deseja. Um galho cresce em uma direção, adquire vigor e é cortado, o galho novo se vê então forçado a crescer de uma maneira anti-natural, continuamente se podam os galhos e raízes para que não cresçam em liberdade, e sim de acordo com o objetivo do jardineiro. De maneira semelhante ao bonsai, a realização do próprio desejo na infância deve ter sido muito difícil. O que foi exercitado é a resistência ao desejo dos outros, e isto, na maioria das vezes, ficou confundido com o próprio desejo. A pessoa deve ter desenvolvido o hábito de resistir ao outro, no ataque, a oposição e a descarga forte de energia.

Esta reação contínua adquire a aparência de uma grande vitalidade e de uma pessoa desejante. É muito provável que a oposição ao outro, e inclusive a resistência ao desejo de “alguém” imaginário sobre a pessoa, seja o seu verdadeiro organizador, inclusive de seus atos. E neste caso, evidentemente, não há um verdadeiro desejo e sim reação.

Não se deve ver isto simplesmente como um mecanismo próprio da afetividade cotidiana e sim uma estrutura da profunda afetividade, que tem como contexto inconsciente a presença dos desejos de “outros” que os determina. Lutar contra ele, definir-se contra, é em muitos casos a fonte da direção vital por um longo tempo, é uma vida que finalmente se revela determinada pelos outros. Este é o dilema. A identidade primária está condicionada pela presença de outro determinante. Sem ele, não existe um nível inconsciente. Daí que para esta estrutura lunar seja mais fácil definir-se por oposição, desafiando e transgredindo o desejo da mãe - ou todo o desejo identificando como materno - quer conectar-se profundamente com ela e com suas verdadeiras necessidades. Este forte componente de reação deve vir à luz, para que esta pessoa possa aflorar como realmente é. O grande problema é que quanto mais luta contra os outros e mais independente se mostra, tem a sensação de estar só contra o mundo, e maior dependência se estabelece no íntimo. Sendo a Lua a função de contato e resposta natural as necessidades, e estando aqui relacionada a reação do imaginário, é pouco provável, que a pessoa se dê tempo e relaxe para descobrir a si mesma, independente do antagonismo e a periculosidade que o inconsciente configura nos contextos.

Ao identificar-se, ou polarizar-se com este lado de reações, se torna difícil aceitar a informação que traz o restante da carta natal e desenvolver uma síntese criativa entre todos os elementos. Se define contra os próprios aspectos, que apenas ficam identificado como desejos desta mãe arquetípica. Assim se perpetua a exclusão e fragmentação própria do mecanismo lunar.

No caso da Lua em Áries, temos que pensar que a criança carece de uma função básica de relação e extensão do contato e que isto só deverá ser aprendido ao longo da vida. Geralmente tem um corpo ativo, porém hipertenso e em estado de alerta permanente, para cujo o inconsciente o relaxamento e a receptividade estão identificados como perigo e a ausência de contenção (falta de afeto). O corpo está acostumado a acumular tensão como estado básico e, ao mesmo tempo, está carregado de ressentimento e irritação diante da presença dessa “mãe” que na infância lhe deu carinho e amor, mas de modo determinante e agressivo. Deve haver um nível “exasperado” na pessoa que se manifesta só em situações limites. É importante para nós pensarmos de que maneira esta tensão e irritabilidade subjacente organizam e inibem outras funções do sistema.

Eventualmente, é possível ver pessoas com esta Lua que rechaçam o componente emocional ariano, e que desde o plano consciente, não se identificam com ele. Sonham ter valorizada a contemplação, a solidão e a quietude, porque ali se sentem livres de suas “mães”, fazendo exatamente o que esta (sua lua) detesta. Estas pessoas com um forte componente calmo e contemplativo se sentem rodiadas por outras, hiperativas e intrusas, que atentam contra sua quietude, a que em seqüência, deve ser defendida. Aqui, a Lua ficou do outro lado, em relação a identidade consciente, está presente como complemento de quietude que deve ser defendida da intromissão dos demais. Esta é a razão pela qual, geralmente, a pessoa se queixa de agressão, da hiperatividade ou invasão do mundo “externo”, sem admitir que inconscientemente à necessita para sentir-se segura e completa. Na realidade se organizou reativamente em relação a uma dissociação e desta maneira, a tensão e a intromissão nunca deixarão de existir.

Para compreender seu significado real e toda a importância da energia lunar, é interessante observar pessoas mais velhas que tenham perdido a lucidez, por causa do envelhecimento ou de alguma doença, especialmente arteriosclerose, com o processo de regressão que esta causa. A queda do “eu” mais maduro, que organizou integralmente um conjunto de energias da Carta Natal, deixa exposto a presença da vibração básica que estão unidas nas células. No caso da Lua em Áries, estes idosos se revelam terrivelmente perigoso, irritáveis, gritões e em constante movimento, até onde lhes seja possível. Por um lado vemos novamente como diante do limite de Saturno - às vezes - aflora a Lua, o limite de um pólo desencadeia o outro.

Por outro lado, temos aqui a oportunidade de entender um lado que habitualmente nos escapa; a presença de uma estrutura psicológica praticamente autônoma que se subjuga ao “eu” mais maduro. Esta modalidade pode estar exposta em casos extremos de ansiedade, sendo esta a que havia se manifestado como dominante desde o ponto de vista energético no início de nossas vidas.

Ao longo dos anos esta pode ficar coberta, por assim dizer, por outras qualidades, mas na maioria dos casos só se sobrepõem sem conseguir integrá-la. Cada vez que os níveis mais maduros se quebram, aquela modalidade reaparece como no princípio, revelando seu comportamento mecânico que, se não for realmente integrado, se repete como se não tivesse aprendido nada ao longo dos anos.

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