O refúgio da fantasia.

A dificuldade básica consiste em compreender a atividade desse mundo interno em que se refugia para não enfrentar o que está fora já que, com sua fantasia, é capaz de gerar situações irreais sem perceber. Uma pessoa com o Sol em Áries, Ascendente em Aquário e Lua em Câncer, por exemplo, pode sentir-se um herói da guerra das galáxias ainda que passe a metade de sua vida dentro de sua casa, olhando vídeo. O vínculo inconsciente de invadir toda uma confrontação pode levá-los também a depender de pessoas que se façam reféns do lado duro da vida ou a arriscar consigo situações que não se sentem capazes de enfrentar, com a conseqüente acumulação de mal entendidos. E quando estalam dolorosamente as respostas são ainda mais infantis, porque o plano dos eixos e da realidade externa é demasiadamente contundente para ser suportado e não podem compreender porque nada os protege desta situação.

Nos momentos mais difíceis, quando esta Lua tem medo ou se sente muito insegura, busca seus substitutos favoritos: volta com a mãe, se fixa na família, se mete em sua casa ou inclusive se fecha em sua habitação sem sair. Dificilmente se sente só porque ali tem tudo o que necessita: seu gato, suas plantas ou seu computador. Quem sabe se ponha a decorar as habitações ou volte a olhar velhos álbuns de fotos ou, a relerem algumas cartas: mas nunca se reconhecerão como solitárias. O básico é o hábito de fechar os olhos e de meter-se para dentro, na segurança do mundo conhecido, porque o imaginário diz que desta maneira os problemas se resolvem sozinhos.

Nesta descrição estou enfatizando, obviamente, não a necessária busca do afeto da pessoa diante de uma situação difícil, e sim a atitude negadora que se recria em seu mundo infantil. O afeto conseguido por esta via não dá força a Lua em Câncer para enfrentar as situações, muito pelo contrário, alimenta suas ilusões e posterga o conflito até o momento em que inevitavelmente chega ao desenlace traumático.

Devemos aprender a registrar e avaliar as distâncias internas que gera em uma pessoa a identificação com a Lua, assim como as ilusões acerca de si mesmo e da realidade, próprias de seu mecanismo. Suponhamos novamente um Sol em Áries com uma Lua em Câncer, a autonomia entre estas duas energias tão diferentes em um nível dissociado - e a conseqüente dificuldade para juntá-las - será geradora de conflitos mesmo que o mecanismo permaneça na sombra. De resto, esta pessoa é muito mais vulnerável e afetiva do que acredita quanto se identifica exclusivamente com seu Sol em Áries. E é ao mesmo tempo muito menos dependente e necessitado de afeto do que sente quando o mecanismo lunar se impõe. Mas o processo é na realidade muito mais complexo, porque a negação da Lua canceriana por um Sol combativo em Áries, cedo ou tarde a levará a buscar refugio em pessoas e situações que contradigam todas as iniciativas arianas, e vice-versa, se a pessoa permanece em demasiado tempo sumida na simbiose que possui sua Lua, seu Sol em Áries a disparará explosivamente até outra aventura heróica em que voltará a sentir-se terrivelmente desprotegida, para alimentar novamente o círculo vicioso. O que deve ser compreendido é o circuito, a distância interna entre estas duas dimensões existentes na pessoa. No caso da Lua, se trata de discriminar entre as verdadeiras necessidades de segurança e a distorção perceptiva que gera o mecanismo.

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