A polarização desta Lua

Assim como a Lua em Virgem se polariza na desordem, a presença da Lua em Escorpião em um sistema energético pode potencializar ciclicamente os componentes uranianos do mesmo. A absorção no desejo de fusão provoca a imediata asfixia uraniana e gatilha a fuga da situação ou a desconexão.

Este último mecanismo é mais insidioso que a fusão posto que a pessoa pode desconectar-se emocionalmente da situação em que se encontra e não registrar o que está ocorrendo até chegar, sem adverti-lo, a situações de alta destruição. Por outro lado - se o mecanismo não é compreendido - a fuga não resolve nada posto que sairá desta situação só para refugiar-se em outra que, mesmo de forma diferente, terá a mesma intensidade.

Na verdade a fuga da própria intensidade é uma estratégia básica da Lua em Escorpião - que forma parte do mecanismo - configurando um pulso recorrente da intensidade-fuga. Assim, escapo de minha família aristocrática em que devo honrar meu nome e onde exigem servir as regras preestabelecidas pela tradição do clã. Então, me converto em um militante revolucionário, até que percebo que neste grupo estão me pedindo novamente tudo, inclusive que entregue minha vida. Escapo novamente buscando a paz espiritual em um “mosteiro”, ao redor de um “guru” que, por suposição, me obriga a deixar toda a minha vida anterior para entregar-me a ele e ao caminho que foi traçado para mim... assim, fujo outro vez, para casar-me com alguém, que me tranqüiliza..., até que descubro que esse ser aparentemente inofensivo vem com uma sogra toda poderosa, que torna impossível a vida..., e aí recomeça novamente toda a odisséia da Lua em Escorpião, até que compreenda a si mesmo, e toda a estrutura. Só a partir daí se revelará à pessoa a natureza do padrão afetivo que a tem atrapalhado, alternando absorção e fuga. Obviamente, este padrão inclui também aqueles episódios que nos quais “os que fogem de minha intensidade são os outros”.

Mas se a pessoa começa a colocar limites, já está saindo da Lua...

Estaria saindo do mecanismo desta Lua, porque já aprendeu a expressar outras energias de sua estrutura que a balançam. Colocar limites implica exercitar a função paterna e, neste caso, significa que a “fusão-mãe” tem deixado de ser imaginariamente toda poderosa, dando lugar a seu complementar. É uma desilusão enorme no nível inconsciente, mas é a base para a integração madura desta Lua.

Quando se diz que essa Lua oculta, é um ocultamento de sentimento?

Mais correto seria dizer que não demonstra o que realmente sente, entre outras coisas porque seu mundo emocional é enorme em termos de intensidade e terrivelmente ambivalente. Na realidade quando uma Lua em Escorpião diz “te quero”, um lado seu está dizendo, “unidos para sempre pelo resto de nossas vidas...!, enquanto o outro pólo suplica “por favor não acredite”.

É uma energia típica desses matrimônios em que se começa o divórcio enquanto um dos dois diz que quer sair sozinho. Um comportamento discriminado e uma baixa da intensidade é vivido como ausência de afeto. Mas se é ela - ou ele - quem comanda a fusão, fará por outro lado, todos os malabarismos possíveis para não explicitar a potência de tais sentimentos, porque se sente atrapalhado nas conseqüências de seu próprio movimento. Ou seja, se não há conflito, se sente inseguro, nunca poderá evitar o conflito, então!

No mundo infantil nunca poderá evitá-la, porque ali é seu refugio, é o conflito e sua proteção é o desgarramento... De modo que quando a pessoa está torturada e sofrendo, esse mesmo estado lhe dá segurança, este é seu hábito e se isso não acontece, está fora de sua “mãe”. Desde tal lugar, só pode entregar-se a uma grande paixão, isto é, a uma intensidade afetiva voraz e absoluta na qual existe a fantasia de entrega total, mas onde, na realidade, não há entrega em absoluto. Neste nível da Lua em Escorpião não existe o outro, a pessoa está sempre consigo mesma, em seu refúgio de fusão, de onde imagina que os componentes do vínculo são idênticos. Por conseguinte, não pode aceitar - nem sequer perceber - que alguém realize um movimento diferente. A sua vez, se torna muito difícil tolerar que haja paz, calma e desfrute em uma situação que fluía normalmente, a partir do mecanismo lunar, isto é vivido como amenizante.

Há um nível de gozo e prazer em permanecer no escuro?

Eventualmente sim, do mesmo modo que em uma Lua em Gêmeos há prazer na verbalização ou na Lua em Leão em sentir-se importante. É dizer, é um gozo que faz parte da natureza da Lua.

O ponto de maior dificuldade é que a pessoa se sente inconscientemente cômoda em meio ao sofrimento e a situações potencialmente destrutivas. Se recordarmos a confusão básica entre o nutritivo e o tóxico e o hábito de deixar-se absorver por uma intensidade exagerada, é fácil deduzir que esta Lua entrará presente em quadros aditivos. Este duplo jogo no afetivo pode levá-lo a estabelecer relações com muito conflito e a escapar de outras muito mais sãs e nutritivas para o resto do sistema. É possível também que se envolva em situações onde intervenham pessoas com tendências destrutivas, escapando de outras que expressam a capacidade vincular muito mais madura, mas que não são suportáveis neste mecanismo. Esta Lua também pode ser um componente estrutural de patologia tais como a bulimia e a anorexia, as adesões as drogas, ao álcool ou diretamente ao sofrimento, por sua tendência a entrar em vínculos torturantes. Aqui reside o mecanismo a romper: a associação entre segurança e absorção, que leva ao desgarramento e que inicia o ciclo ambivalente ao tentar sustentar a situação e, entregando-se a ela. Paradoxalmente, é neste terreno onde reside a máxima segurança inconsciente.

Um comentário:

AugustoCrowley disse...

Show de bola, como se diz, amamos um drama!