Talentos da Lua em Gêmeos

Se a Lua se integra ao sistema já não absorve indevidamente energia nem distorce as demais funções. Mas, o que significa “se integra”? Basicamente, que a consciência já compreendeu o nível de si mesma que se protege desta maneira, no caso da Lua em Gêmeos, postergando indefinidamente a síntese. Ao ter contato com o temos que está associado ao mecanismo, este deixa de ser valorizado como um talento e o detém, permitindo a pessoa começar a entender seu próprio mundo emocional.

No princípio, para a pessoa com esta Lua é muito mais cômodo assimilar e assimilar, combinando e recombinando, preparando-se infinitamente para o grande dia que nunca chega. Deixar de refletir mentalmente os outros é toda uma confrontação emocional porque, ao ver-se obrigado a fazer a sua própria síntese ou ter que assumir uma posição estável, se sente particularmente desguarnecida e insegura. Seguramente terá que atravessar seus medos, não no sentido de controlá-los ou interpretá-los e sim permanecendo com eles até que desenvolvam tudo o que têm que dizer.

Uma pauta importante, então, é se dar conta que o medo está associado a Lua e que se aceitamos o modo que ela nos mascara, nós ficamos na Lua. Em termos históricos, o mecanismo lunar sente um temor próprio dos primeiros anos de vida ou - em termos energéticos - de quem não se atreve a ir além do conhecido. Quando se atravessa uma situação em que operam outras energias da carta natal, a qualidade lunar se sente transcendida em suas possibilidades e começa a atuar inconscientemente. A partir daqui se configura um contexto imaginário em que, não só o perigo e o temor são ilusórios, e também a maneira de transcendê-los. O contexto que estou imaginando era próprio quando tinha cinco anos e a resolução em que confio hoje foi exitosa, mas não pertence ao presente. Dito energeticamente: o que imagino quando o mecanismo lunar é me imposto, era perigoso quando não tinha maestria sobre nenhuma outra qualidade energética do sistema, fora o da Lua. No momento presente do desenvolvimento cíclico da carta natal, quando se materializam determinadas experiências, já tenho a disposição muitas outras qualidades para responder à situação.

Mas aflora o medo próprio da identificação com a qualidade lunar entendida como exclusiva - energeticamente - ou de incapacidade para registrar afeto e segurança por outros canais que não repetem o esquema mãe/filho, psicologicamente. Neste ponto, se dar conta do temor ligado a própria Lua é extremamente importante, mas muito mais é poder atravessá-lo. No caso da Lua em Gêmeos, podemos dizer “ah, pobrezinho! Porque não pode fazer três coisas ao mesmo tempo? A que assim fala é a parte menor e mais desvalida da pessoa. Quando esta Lua faz três coisas ao mesmo tempo é porque está escapando de algo; basicamente, está escapando de definir uma direção de acordo com sua singularidade, está buscando postergar a definição de si mesmo, permanecendo em um estado infantil inclusive. Cedo ou tarde o destino fará com que se defina, mas neste caso , provavelmente, deverá fazê-lo por meio de crises.

O mecanismo da lua consiste em permanecer para sempre na base, identificado com aquela qualidade através da qual entrou na vida, sem crescer jamais. Em termos energéticos, crescer quer dizer abrir-se aos níveis desconhecidos de si mesmo e não identificar-se com o conhecido. Justamente porque essa base - o conhecido - já está assegurada e nada irá nos tirá-la, se é possível ir mais além, incorporando-a como um talento maravilhoso de uma nova identidade que se desenvolve.

Um talento inegável da Lua em Gêmeos é poder colocar palavras às emoções e, em geral, a todas aquelas ordens da realidade que são muito difíceis de verbalizar. Existe uma usual atitude para falar e expressar já que, no geral, estas pessoas falam muito e possuem uma grande capacidade para estabelecer ações mentais. Agora bem, isto é um talento ou um refúgio? É difícil discriminá-lo e tudo depende de como está se manifestando a energia. Podemos dizer que uma coisa é colocar palavras naquilo que teme e fazê-lo inteligentemente, criando assim um novo contexto de comunicação para todos, e outra muito diferente é explicar e estabelecer teorias sobre isto para mostrar o próprio brilho intelectual afetivizado. Uma coisa é ser inteligente e outra é depender dela porque não suporta que existam regiões além das palavras. O talento para a comunicação está presente na Lua em gêmeos, com toda a segurança, mas si a pessoa se desespera cada vez que não consegue comunicar-se e fazer-se entender, então estamos diante de um aspecto regressivo.

Freud tinha a Lua em Gêmeos na casa VIII e nele podemos ver todos os talentos. Possuía uma capacidade extraordinária para estabelecer relações entre campos diferentes, para conferir inteligência e colocar palavras nos mundos mais escuros, ambivalentes e contraditórios, para captar coerência no âmbito dos sonhos. Com um dado pequeno, com um simples ato feito, esta Lua em Gêmeos a serviço do Touro-Escorpião conseguiu captar de que maneira se configura o inconsciente e, desde ali, reorganizou a totalidade do ser humano para nossa época. Em Freud, o talento da discriminação e a palavra se fez presente no território mais indiscriminável e escuro.

Mas por outro lado, podemos também ver através do desenvolvimento posterior da psicanálise que, quem sabe Freud previu - como condição para a cura - excessiva ênfase em fazer inteligente o inconsciente. Desta maneira, o “interpretar” ficou supervalorizado e o talento de colocar o escuro em palavras abriu outros canais. Para ele Jung era um místico e Reich um louco, porque aceitar que os modos do inconsciente podem resolver-se em seu próprio nível, sem ser mediados racionalmente ou, que chegar até o fundo da libido, pelo próprio corpo sem passar pela interpretação, era muito perigoso. Mas podemos perguntar, perigoso para quem? Sentimos a tentação de dizer, para sua Lua em Gêmeos. Quem sabe ele se sentia excessivamente ligado com seu próprio talento, que era a palavra. Mas aqui reside ao mesmo tempo o temor, porque vendo o escuro sem palavras nos acomete medo. Isto é assim para todos, mas fundamentalmente para e sistema energético de Freud, em que deve descobrir-se uma distância muito exigente: a que media entre sua Lua em Gêmeos e seu Ascendente em Escorpião. Não me parece possível elucidar levianamente onde o suporte de Freud foi maior, se do produto de seu talento, ou de seu medo. Da análise de sua Lua em Gêmeos, podemos dizer: houve uma tensão que se transformou em criatividade. Nisto reside a difícil fronteira entre as duas caras da Lua, que não me parece possível de resolver nem julgar além da dinâmica de cada destino específico.

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