Traços polarizados em que persiste o mecanismo

Podemos observar distintas expressões do mecanismo que ilustram a maior ou menor distância entre os pólos, a estrutura e a possibilidade de tomar consciência dos elos para re-significar sua relação.

O extremo mais duro desta Lua se produz quando a pessoa está completamente identificada com o imaginário. Enquanto dura esta fase - e para algumas pessoas isto é a vida toda - a insensibilidade absoluta diante das próprias necessidades emocionais ou as dos demais aparece como a única possibilidade segura. Estas pessoas são extremamente ambiciosas e desconfiadas. Colocarão toda a sua afetividade na obtenção de coisas e dão por certo que sempre estarão só. Não existe se quer a possibilidade de ser abandonadas e, desta maneira, sua superioridade a respeito dos demais reside na fria capacidade de sustentar-se sem necessitar de nada. Isto pode estar recoberto por vários tipos de racionalizações, inclusive “espirituais”. Neste ponto a identificação com a “mãe” é total, e o resto do mundo é tratado como a “mãe” fazia com eles, ou seja, de modo tremendamente exigente. Muitas pessoas exitosas, profundamente isoladas atrás de seu desejo possuem esta Lua. Napoleão e Hitler quem sabe são os exemplos mais dramáticos. Pode ser que não seja muito fácil ver - por detrás de seus atos - sua dependência do olhar desta “mãe gélida” e a maneira como esta retornou ao final de suas respectivas vidas, no primeiro, vendo-se abandonado por todos em uma ilha solitária, como prisioneiro em Sta. Helena; e encerrando-se até morrer em um “bunker” de duro e frio cimento, no segundo. Mas no nível habitual desta Lua não é a identificação total com a energia da “mãe” - que impossibilita o contato com a carência interna - e sim uma articulação em que se projeta esta carência nos demais. Estas podem ser pessoas extremamente sensíveis - de um modo inconsciente, em geral - a vulnerabilidade e necessidade dos outros, percebendo-os muito mais dependentes do que realmente são. Se sentem necessitados por eles, a diferença deles, não podem resolver seus problemas sozinhos assim, exercem cargos de outros o que é uma sofrida tarefa. Sempre há alguém muito carente que necessita de apoio e sustentação, seja a família, algum filho, os amigos, pacientes, empregados, os “necessitados do mundo”, para os que em geral, dirige suas ações, sua capacidade de conselho ou seu espírito de sacrifício. Nesta etapa o único modo em que podem tomar contato com a necessidade é através dos outros.

Mas se observarmos com atenção - por trás de sua auto-suficiência e capacidade de sustentar os outros a pessoa com a Lua em Capricórnio estabelece vínculos misteriosamente simbióticos e dependentes. Responde desta maneira às necessidades de seu núcleo carente, que necessita de afeto desesperadamente atrás da máscara de auto-suficiência.

Neste sentido, nada está mais necessitado de carinho que a pessoa identificada com sua Lua em Capricórnio, pois depende de maneira inevitável, dos vínculos em que obtém afeto de maneira indireta. Cumprindo com suas “obrigações”. Imaginemos uma severa diretora de colégio, quem sabe temida e não querida pelos alunos. Os observa à distância, contente por seu trabalho e sua capacidade de fazer o melhor para as crianças, “ainda que eles não possam reconhecer, porque são muito pequenos”. É pouco provável que se mostre espontaneamente afetiva com as crianças, mas não quererá alegrar-se jamais. A perda desta corrente de amor distante e severo - a que valoriza seu mecanismo - será devastador pra ela.

Isto é, permanecer só, mas acerca dos outros - os que sentem um afeto pouco demonstrativo - é quase uma necessidade para eles. Assim é como se nutrem as correntes emocionais próprias de instituições, de lugares de trabalho e de vínculos com pessoas para - ou com - as quais trabalham. Na realidade, ficam “apegadas” a pessoas e situações que seriam pouco afetuosas para uma Lua em Câncer, por certo, mas para a Lua em Capricórnio são absolutamente necessárias.

Evidentemente, esta maneira de obter carinho é muito funcional, para a sociedade em seu conjunto. O significado básico em que se pode expressar a relação da Lua com o signo de Capricórnio é “ser amado pela sociedade”, ou seja, por nada em particular, mas por todos no imaginário. Daí que estas pessoas prefiram os vínculos impessoais à todo o contato íntimo, satisfazer desejos sociais - não para obter identidade e sim para sentir-se amado e seguro - é o condicionamento do mecanismo. A pressão que exerce o coletivo para “sustentar-se” na aparente solidez destas pessoas é realmente opressora.

Estabelecem assim uma forte dependência com a afetividade social e quase impessoal, que às leva a uma simbiose inconsciente com instituições, grupos ou indivíduos que detenham autoridade. Por oposição, lhes ocorre o mesmo com as necessidades dos outros, com os seres vulneráveis e desprotegidos e com os “pobres do mundo”, sobre quem projetam seu núcleo carente. Neste vínculo, o mecanismo da Lua em Capricórnio se sente em equilíbrio, mas como isso na realidade é imaginário, quanto mais estreita se faz a relação em todos esses casos, menor é a possibilidade de ser rejeitado e o perigo de voltar a experimentar o abandono. Estas pessoas convertem assim a escassez em algo seguro, movendo-se pelo mundo como aparentes “espertos em frustrações”. Desta presunção seus vínculos se emaranham em um jogo de “não necessito de ti, nem a ti nem a nada, mas conta comigo para o que quiser”, “passe o que passe, apoia-te em mim, mas na realidade não me queres e te asseguro que vais me deixar”, e assim ad-infinitum. Se nos atermos a história, esta compreensível imperícia para a intimidade faz com que, cedo ou tarde, se produza a frustração e a rejeição confirmatória. Isto os devolve ao mais conhecido - a carência - para poder dizer a si mesmo novamente, “assim é a vida”.

Mas, ainda que o “não” seja escutado historicamente pelo lado externo, o interno sente que morre e para tolerá-lo - para agüentar o peso da frustração - se conformam nas dependências sutis: calar, postergar, compreender e aceitar. Sentir “maduramente”, em fim, que “mais não pode pedir”.

É evidente que atrás desta imagem de solidez, cumprimento e afetividade, esconde-se uma enorme solidão interior, uma desolação na qual a pessoa se adaptou, mantendo escondido um grande desejo de afeto. Cedo ou tarde - e é o melhor que pode acontecer - o sistema cede e produz uma crise profunda. É o momento em que a exigência afetiva se impõe e pela primeira vez, a pessoa sente que realmente “necessita”. Aqui há uma enorme dor mas, ao mesmo tempo, uma ruptura e a dissociação entre o que temos chamado o nível falsamente maduro e o núcleo carente.

Ainda que este seja um passo fundamental, lamentavelmente aqui não terminam as vicissitudes que nos conduzem o mecanismo. A pessoa descobriu o enorme vazio emocional que mascarava sua rigidez, e agora pede. Assim como não era o nível integrado de si mesma, o que não pedia, nesta fase tão pouco o é aquele que pede. O sistema se re-polarizou e agora se dramatiza, se queixa, o filho diante da “fria mãe” que o rejeitou. Todavia estamos dentro da estrutura do imaginário, ainda que do outro lado.

Isto não é fácil de compreender para alguém que acaba de fazer em migalhas sua auto-imagem e se sente invadido por emoções desconhecidas, que ignorava como expressar.

Muito comumente se produz aqui um transbordamento emocional: a pessoa se acaricia subitamente e se aferra a quem possa dar-lhe afeto, se faz explícita a simbiose própria da fase anterior e surge a necessidade de um intercâmbio emocional aberto.

O problema é que a necessidade se expressa, em geral, a partir do nível da carência absoluta, exigindo uma quantidade de afeto excessiva, para este contexto real da situação ainda que não seja assim para seu imaginário. Na realidade, seu sistema não se abriu o suficiente para distender-se e re-significar profundamente todas as suas atitudes básicas: sua relação com o tempo, com o querer, a abundância, a espontaneidade... simplesmente, descobriu que necessita de afeto e se aferra a fonte com desespero, mas como ainda subsiste o mecanismo, esta fonte segue sendo a “mãe” a quem agora já não acredita mas sim reclama. Toda a angustia e a dor de sua história afetiva se volta a uma única pessoa ou situação, e esta inevitavelmente terá de comportar-se como a mãe. Do ponto de vista, pede tanto que o outro - ou os outros - naturalmente lhes respondem “não”, “não posso dar isso”. Reintegra-se assim o circuito - “pedir é perigoso porque me frustram”- por isso volta a reter e reter, até que não pode mais, e volta a pedir. Mas então na realidade se “calça” nos outros, que inevitavelmente o frustram ao não poder satisfazê-lo.

Isto quer dizer que nunca encontrará alguém que o queira realmente?

Esta não é uma questão psicológica, tão pouco se trata de boa ou má sorte, ou de ter escolhido pessoas adequadas ou inadequadas. Por mais que, do ponto de vista externo, interpretamos que teria escolhido uma pessoa igual a sua mãe, o fato é que ainda não esgotou seu mecanismo independente do comportamento dos outros, estará com a mãe, porque qualquer vínculo afetivo disparará as seqüências interativas históricas até que a pessoa não queira re-significar os contextos de seu “destino”. Ou seja, quer se goste ou não, a energia da Lua em Capricórnio seguirá manifestando-se de forma autônoma com respeito ao resto do sistema, construindo um campo isolado - porque este é o estado energético da pessoa. Isto tem que acontecer ainda que seja doloroso, para que ela se encontre consigo mesma e floresça sua energia de síntese com a afetividade que lhe corresponde, da qual Capricórnio faz parte como um elemento mais.

O destino flui na direção de si mesmo, de forma independente da dor que isso lhe produza. E não digo “capricorniamente” em termos de “deve ser” - ou porque está escrito em algum lugar. Em todo caso só está escrito na capacidade da consciência para identificar-se ou não com certas qualidades fragmentárias. Refiro-me, portanto a única questão possível, isto é, a maior ou menor integração de um campo energético. Entretanto, enquanto as qualidades permanecem fragmentadas e dissociadas, se configurará um destino em que deverá fazer-se afetiva essa dissociação. Não há outra possibilidade.

Em astrologia não há nenhum sentido plantar a resolução das tensões energéticas responsabilizando os demais ou a má sorte pelo que nos acontece. De que maneira participam as outras pessoas desse destino vincular, é outra questão.

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