Alguns comentários gerais

É preciso reiterar que tudo o que foi dito acerca da Lua se refere a formação lunar da necessidade de uma energia que se projeta, durante certa quantidade de tempo, a um ser que está organizando e constituindo. Essa presença de energia e vibração protetora é um requerimento de todo o processo evolutivo e , neste sentido, a Lua é imprescindível.

Podemos pensar nosso sistema energético como irradiando energia através das distintas etapas. A semelhança do desenvolvimento de um embrião, primeiro tem lugar o crescimento de certos aspectos enquanto outros ficam latentes. Logo eles crescem e posteriormente também os outros, até que formam todo o organismo.

Assim, necessariamente, a primeira energia que se manifesta é a nossa Lua e esta terá a qualidade de darmos uma vibração protetora que filtre a carga excessiva das outras vibrações da carta natal.

Ou seja, que o sistema energético filtra a si mesmo. Isto é necessário porque a força de outras energias potentes em demasia deve ser dosada. A Lua tem a função de raiz que permite que cresça e se vá, organizando um psiquismo, até que o estado de seu crescimento perceba que chegou a hora de romper esse “capulho protetor”. Este é o segundo passo necessário e a Lua está concebida no sistema para brindar esta função. Deste modo, chega o momento em que já não é necessário que a Lua filtre o resto da carta.

Agora bem. Qual será nossa dificuldade? Que em geral, permanecemos muito tempo dentro do “ovo protetor” e, em conseqüência, vivemos nossa energia distorcida por este filtro. Vivemos o conjunto de nossa carta natal a partir da Lua por muito mais tempo do que o realmente necessário. Isto gera uma consciência temerosa de si mesma, temerosa do próprio destino, porque seguimos experimentando a estrutura natal através da necessidade de proteção.

Um segundo ponto é que, eventualmente, nós desenvolvemos consciência do restante de nossa carta natal, mas em situações de insegurança ou de perigo voltamos a ser “o pinto que se esconde no ovo”. Isto é o segundo movimento que tendemos a fazer com a Lua, ou seja, que já se produziu uma experiência e uma capacidade de sintetizar o conjunto das energias, quando uma situação ultrapassa certo limite emocional ligado ao temor a consciência volta a submergir-se no refúgio lunar e segue fazendo as coisas a partir dali.

De modo que cada vez que há medo ou um susto, há Lua?

Qualquer situação que ponha em contato com o desconhecido ou perturbador pode produzir temor, mas isso não significa necessariamente “estar na Lua”.

Uma coisa é o temor normal, e outra é ter medo e tapá-lo com uma resposta que distorce o contexto real. Este último sim é o mecanismo lunar, ou seja, algo que não se impõe de maneira consciente e automática para evitar que ocorra o que mais o assusta.

E desta maneira nos identificamos com a Lua sem saber que estamos assustados...

Claro, porque ativando a energia mais familiar - que por regra geral não é a mais eficaz - tapamos de um modo inconsciente a presença deste temor ou do desconhecido. O mais provável é que, se tenho consciência de estar assustado, não se ative o mecanismo lunar e fique naturalmente inibido pela presença de outras qualidades do sistema, permitindo que aflorem os temores ocultos que eram mascarados.

Estes são os pontos de partida básicos, necessários para nossas indagações. Em astrologia é imprescindível voltar continuamente à eles porque não são instintivos, isto é, não se resultam naturais. Se o perdemos de vista, começamos a significar o que escutamos das posições não congruentes com a astrologia. A Lua pode mostrar-se através de descrições ambientais e de características de comportamento das pessoas. Mas esta é uma visão astrológica muito clássica e é muito importante dar-nos conta de seus limites.

Aprofundando, podemos dizer que a Lua nos aparece através de descrições psicológicas, enfatizando as conseqüências daquilo que ficou afetivizado nos primeiros anos e que nos fala deste vínculo entre a mãe e o filho. Desta maneira, a carta natal se assemelha tanto a um mapa das estruturas psicológicas como a um mapa de tudo o que ocorreu a pessoa, em termos de identificações com seus pais. A Lua pode nos aparecer assim como um “teste projetado” ou como um instrumento de trabalho para um terapeuta, facilitando o diagnóstico daquilo que demoraria meses para indagar às cegas. Esta é uma tendência que hoje, diria, é quase dominante em astrologia.

Agora bem, em minha opinião, isto é fundamental mas não é o fim da questão porque o trabalho com a Lua, por exemplo, excede em muito o vínculo inicial com a mãe e em absoluto se limita ao mesmo, ainda que seja congruente com ele. Não é simplesmente descrevendo-se a mãe que isto se resolve, porque a matriz está e seguirá manifestando-se em outras situações ao longo da vida, em que o mecanismo voltará a repetir os comportamentos infantis. Ou seja, é preciso compreender a tendência a autonomia e a dissociação da energia lunar e a maneira como esta se impõe. Mas, mais tarde, já dissolvida esta autonomia, a energia seguirá aparecendo e configurando situações que exigirão respostas integradas. Isto nos obriga a uma compreensão cada vez maior da qualidade energética associada a Lua, que seguirá sempre formando parte da vida. Distinguimos nitidamente a repetição energética - que é inevitável - da projeção psíquica que interpreta da mesma forma os cenários manifestados e responde da mesma maneira. Uma coisa é a projeção das marcas infantis provocadas pelas primeiras manifestações da energia e outra muito distinta é a exteriorização recorrente de uma estrutura em que a consciência deve descobrir ciclicamente novas respostas e possibilidades.

A abordagem profunda deste tema é muito mais difícil de sustentar que o psicológico ou o astrológico clássico. Quando falamos de Lua, estamos falando de “vibração lunar”, e é importante recordar que a carta natal simboliza uma dinâmica vibratória própria de cada um de nós. Assim, podemos falar de distintos tipos de vibração - entre as que se encontra a lunar - e de aprendizagem da consciência, que emerge para adquirir maestria nesse campo vibratório.

Que quero dizer com “vibração”?. Pois, um tipo de energia particular que convoca qualidades similares ou complementares e que se manifesta “atraindo” pessoas ou situações. Há um tipo de energia particular que é simbolizada pela Lua, outro tipo simbolizada pelo Sol, Marte, Ascendente, etc. constituindo em nós algo assim como um entrelaçamento, um traçado de distintos níveis vibratórios e de distintas qualidades que geram consciência e respondem à ela.

Um segundo ponto, é que nossa consciência - nossa sensação de identidade - se identifica com algumas destas vibrações e ficam capturadas nelas, rechaçando outras. É dizer, a consciência tende a não distribuir-se, a não recorrer aos distintos registros vibratórios e sim a ficar fixada em algumas, polarizando os outros aspectos - da mesma estrutura que inevitavelmente serão experimentados como antagônicos e geradores de conflito.

No nível vibratório básico em que nossa consciência se fixa é a da Lua. Este é o ponto. Por isso, trabalhar a Lua, quer dizer dar-se conta qual é o tipo de energia, qual é o tipo de vibração com a que nos identificamos e que geramos inconscientemente como modelo de segurança.

Este último - que geramos energia, obviamente de forma inconsciente, e de alguma maneira às demais respondem à ela e vice-versa - é algo que começamos a registrar ao entrar mais à fundo na análise energética. Os demais se “engancham” com certos níveis nossos de energia e a sua vez nos arrastam até ela. É dizer, há uma retroalimentação entre o “fora” e o “dentro”, de modo que já não podemos pensar que tudo depende de nós mesmos. Trata-se de um campo interativo em que se manifesta determinada energia. Depende da pessoa o fato de permanecer identificada com esses níveis ou abrir-se a um campo mais amplo, onde o antagonismo pode diluir-se em níveis de maior síntese. Isto é básico para nossa investigação.

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