Concentração e não distribuição de afeto.


Continuando com nossa discrição, o estágio de polarização na carência total a pessoa com a Lua em Capricórnio anula “a mãe fria”, o querer e a reparação - dito em termos psicológicos - o sofrimento acumulado. Mas acontece que segue tão atrapalhada com o passado no fragmento lunar - como quando estava instalada do outro lado do mecanismo. Desta maneira ainda que seja querida por muitas pessoas, não pode ser por sua “mãe” projetada em outro. Será querida por alguém diferente que não gostará, ainda que se proponha, dar-lhe a chave “do eremita” em que ficou fechada na meninice, e da qual agora quer sair com desespero.

Para sair, tanto para esta como para qualquer outra Lua, a pessoa necessita compreender a totalidade do mecanismo e abrir-se a uma afetividade que está no presente e que o imaginário impede de se desvencilhar. Neste caso, se realmente a Lua cumpriu a sua função, a afetividade já não corresponde somente a Lua. Algo cresceu, amadureceu e floresceu e agora se desenvolve, incluindo todas as energias da carta em seu nível afetivo. Mas para que isto aconteça será necessário experiências que, passo a passo, nos conduzam a não identificação com o mecanismo, neste caso, com a ilusão do isolamento.

Enquanto a pessoa com a Lua em Capricórnio deseja o afeto de uma única fonte reparatória, estará recriando a dinâmica inconsciente habitual.

Ainda que exteriormente a veja fora de seu isolamento - e já não pareça frio e distante o personagem solitário - segue isolada com a “mãe”, projetada agora na simbiose com outro, ou com um grupo e instituição.

Podemos ver, portanto, que para a Lua em Capricórnio é muito difícil distribuir afeto. Quando se abre uma possibilidade afetiva coloca tudo nesta situação, com a qual inevitavelmente se dá mal. E isso não é uma crítica e sim a descrição de uma experiência pela qual as pessoas com esta Lua deverão transitar até descobrir-se em toda a sua complexidade.

Um indício chave que por si marca o começo da transformação, é escutar dessas pessoas que não se sentem bem, que se sentem deprimidas ou necessitadas, e que pedem a seus amigos para que às “suportem” neste estado. É um progresso enorme porque, em geral, passam todo o domingo ao redor do telefone esperando que algum amigo se deprima e as chame para contar-lhes seus problemas... É que - já o sabemos - escutar o problema dos outros e ajudá-los equivale a um laço afetivo.


Por isso, a chave consiste em registrar a necessidade em dar-se conta que o primeiro “erro” é acreditar que necessita menos do que realmente necessita. O segundo “erro” é o oposto complementário, acreditar que necessita muito mais que o real. Se compreendermos a natureza do imaginário “frio e solitário”, podemos nos dar conta que, seja identificando-se com esse frio insensível ou experimentando-o como uma realidade imposta do que está “fora”, a pessoa vive na prolongação imaginária de seu passado. Nesses casos por excesso ou por defeito, demonstra sua dificuldade para o contato com a real necessidade.

Isto é profundamente o mecanismo lunar: a sobrevivência de uma qualidade que já não existe como tal, e sim como hábito. Isto, por certo, gera projeções, sensações e respostas iguais, articulando-se em padrões vinculares que não sejam afetivos. Assim, o isolamento da pessoa - ou sua saída do mesmo - dependerá exclusivamente de seu estado de consciência, do núcleo onde esta se fixe ou com o que se identifique. E quando digo consciência me refiro a totalidade da percepção, que também inclui as hábitos corporais. Assim como em Gêmeos trata de reconhecer o hábito da divisão, em Escorpião da fusão, em Capricórnio deve-se descobrir o hábito corporal de contrair-se e concentrar-se que a leva acreditar que, fechando a circulação, dispõe de mais energia. A qualidade de base com a qual a pessoa nasceu possibilita certamente a concentração, mas o mecanismo a converte em único recurso e assim só se dedicará à fechar os circuitos e nunca a abrí-los. Quando esses hábitos perduram a pessoa ainda “vive na Lua”, sem integração do resto do sistema nem o florescimento de outras qualidades. Então, não se trata de uma história psicológica que deve ser reparada e sim de aprender outro movimento, aquele que permite a circulação para abrir novos pontos focais, distribuir a energia e, sobretudo, receber a abundância externa e liberar a abundância interna (em lugar de economizar para tempos piores).

Em conseqüência, isto não se resolve em nível emocional e sim em todos os níveis que implicam um questionamento profundo de crenças e uma renovação de atividades corporais. Não há maneira de fazê-lo se não se replantar por completo o uso do tempo, o medo da frustração, o desejo quase exclusivo de cumprir com as metas e tarefas propostas, a supervalorização das próprias responsabilidades. Nesta abertura global, a pessoa encontrará seguramente vínculos gratificantes e gozará de um afeto distribuído e não concentrado, como pedia a ilusão. Poderá descobrir, agora sim, qual necessidade real há em sua vida da presença dos outros e a dimensão criativa de sua capacidade de solidão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Texto simplesmente maravilhoso. Estou impressionada com sua capacidade de clareza e detalhamento que, mesmo em anos de terapia, é difícil sintetizar...Estou encantada, tocada.


Lara Moncay Reginato disse...

Grata.

maria teodora disse...

meu deus
esses textos sobre a lua em capricornio são muito reveladores!!!
eu rejeitava muito essa lua - o que é minha propria ilusão! quando se ultrapassa, mesmo que por breves momentos, a lua, podemos vislumbrar o universo inteiro, dentro e fora de nós!
te agradeço profundamente por compartilhar cada palavra!

Carlos Alberto da Silva disse...

Ótimo texto