Acompanhado pela solidão.


“Não há afeto para mim! Bem então, me arranjo só!”

Aqui aparece o componente de auto-suficiência que, psicologicamente, surge da sensação de que não há a quem pedir-lhe sensivelmente, não está disponível o que se necessita e pedi-lo é um gasto inútil de energia, que contém o risco de expor-se a dor ainda maior que a frustração. O registro da criança é que nada vem abastecê-lo, ainda que grite ou pateie, só e ereto, enovelado sobre si, quem sabe chorando - toma a decisão de fazer-se forte e suportar, porque não há outra possibilidade. Aqui ressoam nela todos os valores e afetos familiares, em torno de quem é capaz de suportar as restrições e cumprir com o dever em solidão. Esta conduta torna-se inconscientemente premiada e por isso, no mesmo momento em que se sente só e decidida a enfrentar suas dificuldades, surge a onda de afeto que a faz sentir novamente querida. Não por si mesmo, precisamente, e sim da “mãe”. Só e cumprindo, é querida por uma mãe imaginária.

Parece-me muito importante registrar isto para descriminar corretamente entre amadurecimento emocional e mecanismo lunar capricorniano. A sensação de afeto não surge de um contato profundo consigo mesmo ou de uma auto-valorização nascida da experiência e a correta ponderação de necessidades e possibilidades. Aceitando sua solidão a criança está satisfazendo o outro - “a mãe” - acocorado em seu berço frio e aprendendo a responder a única fonte de calor possível: a aceitação da solidão e o cumprimento das obrigações. O sutil é que estando só, estará acompanhada por essa presença materna e na realidade será uma criança solitária, obediente e disciplinada ainda que pareça um adulto maduro e responsável. A criança aprendeu que ficar só a faz querida e assim, a trama deste complexo circuito, se tecerão as vicissitudes de sua futura vida como adulto.

Quando a criança com a Lua em Capricórnio não pede o que necessita, não chora frente a uma “perda” e “agüenta” em sua solidão, na realidade deixou de estar só, “sabe” que a mãe distante está compadecida e a olhar com aprovação, ainda que não demonstre.

É fundamental perceber esse diálogo tácito para compreender o circuito. Mais tarde quando adulto, possivelmente a pessoa se queixe do abandono e da frieza que padeceu por parte de sua mãe, mas é pouco provável que registre quanta energia materna - real ou imaginária - continha esse diálogo silencioso da solidão. Ali havia tanta comunicação não verbal como com a que experimenta uma Lua em Câncer, recriando esse diálogo há carinho, companhia e segurança. Quem sabe o mais complexo de compreender neste mecanismo lunar é que não se trata de uma solidão real, e sim de um encontro imaginário com o afetivizado pela mãe. Por isso não está nunca só e sim que se isola: é dizer, se vá com a mãe.

Para não pedir, basta não necessitar...

De qualquer maneira, não entendo porque esta Lua não pede o que necessita...

Efetivamente, uma das marcas típicas desta Lua é a dificuldade para pedir aos demais aquilo que necessita. Não há uma resposta linear a esta questão e só podemos observar como se revela a estrutura global, que encerra a pessoa em um beco sem saída, como nos demais mecanismos lunares. Por um lado existe a certeza de que seus requerimentos não obterão respostas, a convicção de que será rejeitado leva a aludir sistematicamente a frustração, que é dada como certa. Cada “não” ressoa aqui em toda a história emocional e pode ser devastador. Deste modo a atitude mais segura será não abrir jamais a possibilidade - quase certa - de ser frustrado. Como fazê-lo? Pois, não pedindo...

Mais ao mesmo tempo, o hábito de contração acaba insensibilizando-o a respeito de suas próprias necessidades. Não experimentá-la é ainda mais seguro que resignar-se a não pedir. Em seu falso amadurecimento, a Lua em Capricórnio resolveu que não tem as mesmas necessidades que os demais. No marco de sua escassez afetiva em que cresceu e registrou do vital e necessário se foi reduzindo progressivamente, até minimizar-se.

Exagerando um pouco, podemos dizer que a Lua em Capricórnio é um “gás emocional”, já que com pouco combustível tira muito... Enquanto os outros necessitam abundância de carinho e contentamento - e além do relaxamento e prazer - essa Lua se acostumou a arranjar-se afetivamente com doces modelos, não só em suas necessidades emocionais e também as econômicas, e as relativas ao prazer e ao descanso. Não sentir necessidade é sinônimo de segurança, ao mesmo tempo, possibilidade de auto-suficiência, é dizer, que não depende dos outros, este é precisamente o registro afetivizado. Não pedir está premiado no imaginário por uma forte carga afetiva e por outra parte - se arrisca à pedir - isto é tão certo como a frustração. Só consigo mesmo está imaginariamente com a mãe, que não lhe dará nada se pedir, mas o premiará se não pedir ou mais ainda, se demonstrar ter transcendido o experimentar de necessidades. Ali o circuito se fecha.

O que faz então esta Lua se há abundância?

Toda a situação desconhecida para nossos mecanismos produz desconcerto no nível emocional identificado com eles e gera insegurança. Diante de uma situação nova tem que apelar à recursos desenvolvidos tardiamente e sobre os quais não existe nenhuma garantia equivalente a que lhe oferece o imaginário lunar. Por mais que o desconhecido seja inclusive desejado conscientemente - neste caso a abundância - no fundo causa um enorme temor.

Aqui a fogueira é um esbanjo e dispõe além do necessário é um deboche, penalizado pela disciplina lunar. Pelo contrário, postergar à expansão - ainda que esta seja possível - da segurança e também lhe dá a sensação de estar sempre ocupado e sem tempo para desfrutar, ainda desejando-o. Eternizar transições em que vive com o mínimo necessário, em uma casa demasiadamente pequena ou fria, postergando a decoração e o conforto da mesma para o futuro, são traços visíveis nestas pessoas. Investir a própria energia em que os outros pedem ou necessitam, sentindo que não tem tempo para fazê-lo em seu próprio prazer, é assim mesmo uma forma sutil de desfrutar a aprovação desta “mãe”, que observa em silêncio.

Quem possui a Lua em Capricórnio geralmente dá para si mesmo aquilo que para qualquer outra pessoa é natural, só depois de um longo período de concentração, contração e postergação da necessidade, quando se tem convertido em uma meta querida e já deixado de ser a gratificação espontânea. Este vínculo com o mundo externo, de que não pede nunca nada, se corresponde em seu mundo interno com o diálogo silencioso com sua “mãe”, pelo qual deve negar a si mesmo tudo aquilo que não se pode prescindir, ainda que não haja nenhuma razão objetiva para fazê-lo. Sempre haverá tempo para o relaxamento depois de ter cumprido com o dever do turno, isto é o que a mãe quer.

Custa-lhes o contato corporal?

Na realidade, o que mais lhe custa é abrir-se afetivamente e pedir. Quando a Lua em Capricórnio atreve-se a pedir é porque a pessoa está muito avançada em seu processo de amadurecimento, ainda que, como veremos mais adiante que a princípio pedirá a outros - ou a si mesmo - de tal maneira que voltará a frustrar-se. Isto perdurará até que dissolva o mecanismo na síntese com a energia solar e com as outras energias do sistema.

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