Outras considerações

A Lua em Leão é uma Lua negadora?

No princípio, todo o mecanismo lunar o é. Veremos que a Lua em Escorpião não o parece em absoluto e que não nega nada... exceto seu próprio mecanismo. Agora bem, toda Lua em fogo, no princípio é sempre negadora no sentido de que sua segurança se relaciona com a sensação de muita integridade e força pessoal, de modo que lhe é difícil descobrir a si mesma em seu lado escuro. Por exemplo, a Lua em Áries sempre se garante através da iniciativa fazendo e fazendo, adquirindo assim sua segurança.

Mas querer descodificar que o mesmo que a leva a sentir-se plena e cheia de energia é algo defensivo, que surge de uma profunda insegurança, requer um grande trabalho sobre si, porque a primeira sensação é ficar sem potência. Uma mínima mancha apaga a imaginação do fogo, é muito mais fácil entregar-se a sensação de que os demais estão equivocados e voltar assim a lançar a própria energia sobre o mundo, ainda que este seja muito infantil.

Parece que de um ponto de vista, é melhor para o equilíbrio da Lua em Leão ter Saturno na 5ª casa...

Lamentavelmente, peço para não acreditar que o  que no cosmos está em equilíbrio, também esteja na psique. É provável que as experiências contraditórias associadas à esta estrutura criem fraturas internas e dualidades que retardarão por muito tempo toda integração. Uma pessoa com a Lua em Leão e Saturno na 5ª casa pode ter que desenvolver, por um lado, um lugar onde se experimenta como centro e, por outro, um lugar onde se sente completamente abandonada. Assim, esta pessoa estará oscilando entre um pólo e outro em vez de integrá-los, e quem sabe leve muitos anos para dissolver essa polarização. Seria muito maduro dar-se conta rapidamente de que, na verdade, “nem me abandonam, nem me adoram, simplesmente me querem” Queremos fazer identidade nas marcas lunares e teremos que viver o resto de nossa estrutura a partir dali, mas no fundo é um imaginário que não encontrará jamais a segurança que deseja. Neste caso, com a Lua em Leão se relaciona uma sensação de identidade muito forte desde o momento do nascimento, isto pode obstruir o encontro com níveis de identidade mais profundos. É possível que, quanto mais complexa seja a estrutura natal, mais tentada se sinta de refugiar-se em sua Lua em Leão, já que não registra uma identidade segura em outros lugares, pelo menos a encontrará ali.

Gostaria de voltar um pouco para o assunto da astrologia e da psicologia, no tratamento de uma Lua. Falei várias vezes que antes da matriz psicológica está a energética. Se isso é assim, só olhando desta maneira as Luas, estaríamos questionando vários princípios de nossa cultura ocidental.

A grande dificuldade de toda esta visão. Digamos, que somos identidades separadas, com um mundo interno próprio; e que já não temos nenhuma razão estrutural com a totalidade que nos rodeia. O ponto de partida da astrologia é o inverso; somos diferenças de uma unidade e, em conseqüência, estamos profundamente ligados com tudo que acontece “fora” de nós.

Proponho que, a medida que apareçam necessidades de “explicarmos” tudo isto, o tomemos como momento indispensável para achar respostas, mas nunca como definitivas. Estamos diante de um processo muito complexo e ainda não somos suficientemente sensíveis para reflexões em nós mesmos e assim compreendê-las. Estas explicações são inevitavelmente parciais e  irão constituindo-se a si próprias, porque há algo atrás delas que está além das palavras.

Na visão astrológica, a meu modo de ver, está muito distante por nosso contexto cultural e possivelmente nos atrase tanto hoje em dia, porque nosso ser mais profundo necessita compensar a crença no qual os seres humanos sentem-se “o centro do universo”. Mas que nos atraia não quer dizer que a compreendemos. Por isso, dizemos, que por hora não estão demais estas interpretações basicamente psicológicas, mas tenhamos em conta que estas são parciais e provisórias.

Os símbolos astrológicos falam de uma totalidade, não só da estrutura psíquica como também com respeito aos mecanismos aos acontecimentos de nossa existência. A astrologia consiste em pôr um espelho para poder perceber toda a estrutura da vida, mas isso implica interpretar ou dizer à alguém “és assim”. Acredito que a astrologia é sensibilidade, percepção, é uma visão, mas a medida que entramos em uma descodificação mais profunda de seus símbolos, a tentação de nós apropriarmos deles em nossa imagem e semelhança se faz cada vez maior. É comum que - quando começamos a ver estes mecanismos lunares, por exemplo - queiramos sair correndo e dizer a nossos amigos com a Lua em Câncer ou Leão à que se deve certa conduta ou reação. Em minha opinião, a melhor maneira de relacionarmos isso é ter presente que estamos diante de um mistério profundo que nos excede e que não terminamos de compreender. Mas que, de todo jeito, estamos nadando neste rio.

Se o diálogo com a outra pessoa se instala através de uma atitude de referência, de noção da índole da linguagem sagrada que estamos aprendendo a comunicar, então surgirá outra qualidade e a interação será muito mais frutífera. Mas essa qualidade não se pode transmitir e muito menos “explicar”, só se pode acreditar nas condições para que se produza.

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