Os ajudantes do Herói Solar

Depois de ter sido chamado, os heróis geralmente arranjam um ajudante, ou recebe assistência de fontes divinas, humanas ou animais. É interessante observar que ele não costuma ter trabalho para conseguir essa ajuda inicial. Ela é dada pelo progenitor divino, pelo mortal ou por divindades benignas que estão ao seu lado por seus próprios motivos. Essa ajuda, às vezes questionável em termos morais (como no caso de Jasão), mas sempre adequada para se ter êxito na empreitada, representa o direito divino do herói: ele será posto à prova e recebe bastante colaboração e não indiferença, para conquistar sua meta.

Naturalmente é possível a recusa absoluta em atender à chamada, neste caso, ela retorna sob uma forma diferente e suas provas serão mais difíceis. O progenitor divino – que é a imagem mítica de algo que existe em nós – não vai nos deixar em paz só porque não estamos “a fim”.

Geralmente o resultado é a depressão profunda e a sensação de fracasso e de vazio. A prova pode também passar para a geração seguinte, e os filhos e netos da pessoa podem sofrer ao receberem assuntos solares inacabados de seus pais ou avós, assuntos esses que devem ficar cada vez mais intensos e exigentes a cada geração que não lida com eles. A constelação de colapsos nervosos e de sérias enfermidades físicas pode incluir formas dramáticas de recusa. É possível rechaçar a chamada de maneira tão violenta que a pessoa se refugia completa e autodestrutivamente no mundo lunar, atitude que deve estar relacionada com as pessoas cronicamente “lunáticas”. O mundo está cheio de gente perdida, que se recusou a atender à chamada solar para a aventura não uma, mas diversas vezes. Muitas delas parecem “normais” em termos coletivos, só que não há “ninguém em casa”.

Essa ajuda vem de dentro de nós, apesar de ser ocasionalmente personificada por alguém que, milagrosamente, oferece apoio ou alguma chave justamente na hora certa. Nos mitos, geralmente é a mãe mortal ou uma deusa lunar, como Hera ou Artemis, que oferece essa dádiva, e ela pode refletir a sabedoria instintiva da Lua, com a qual podemos contar em épocas de crise porque mostra como devemos cuidar de nós mesmos. Às vezes, quem nos auxilia interiormente são os aspectos natais amenos – dons inatos ou habilidade com as quais podemos contar a qualquer instante. Onde quer que tenhamos aspectos harmoniosos, temos aquilo que costumamos chamar de sorte, pois estamos em harmonia interior e, portanto lidamos intuitivamente com a vida de maneira correta.

A ajuda costuma aparecer logo depois que o herói aceita sua chamada. É como se alguma coisa em nosso interior, que dá bastante apoio, fosse ativada quando nos defrontamos e aceitamos nosso próprio caminho na vida. É ainda bastante revelador o fato de outros deuses se envolverem, embora não estejam diretamente relacionados com o herói.

Logo o herói estará fazendo algo pela coletividade, apesar de acreditar que o faz apenas por ele mesmo. No mito de Perseu, a Medusa simboliza mais do que um dilema pessoal. Ela é um problema da psique coletiva, uma herança humana e universal do rancor e do veneno que geram uma depressão paralisante em meio a famílias, grupos sociais e até nações. Assim, o inconsciente coletivo depende da autenticidade de cada indivíduo para cumprir seu designo maior. O fazer do herói são imagens míticas da função mais profunda do Sol, o qual tornando-se o canal para a autêntica auto-expressão da pessoa, inevitavelmente transmite algo à psique maior da qual provém o indivíduo.

O herói deve realizar sua tarefa pelo fato de ser impelido de dentro para fora. Se o faz apenas para agradar os outros, por mais humanitário que deseje parecer, vai acabar encrencado porque não está sendo sincero consigo mesmo. Ele deve encetar sua busca por ser pressionado a ela por sua necessidade interior, não porque isso fará com que outras pessoas o amem.

Quando nos tornamos nós mesmos, temos muito mais a oferecer do que se nos esforçássemos para tentar salvar o mundo como forma de compensar o vazio interior.

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