A “mãe” na Lua em Escorpião.

A experiência arquetípica mais clara que temos todos os humanos - em relação a qualidade da Lua em Escorpião - é o momento pré-natal no qual o feto, por seu próprio crescimento, já não tem lugar no útero. O ambiente maravilhoso que até esse instante o protegia se transformou, subitamente, em uma clausura mortal do qual tem que emergir para dirigir-se até o desconhecido. As contrações uterinas e os próprios movimentos fetais na busca da saída podem ser vistos como um momento de intensidade espasmódica em que imperava a ambivalência. O vital e o mortal alternam suas posições, instante a instante, até que produz a entrada em um novo âmbito da existência.

Todos atravessamos esta experiência - congruente com a fase lunar - e por outras semelhantes, como ao primeiro período de óvulo fecundado, que deve resistir a agressão do novo meio (Áries) até que, cessado o movimento, consegue se aninhar para conseguir crescer indiferente (Touro), e assim com o resto da seqüência. Esta fase natural de relação mãe-feto se absolutiza na pessoa com a Lua em Escorpião por várias razões. Por exemplo, podemos verificar que - muito comumente - estas crianças nascem com duas voltas de cordão umbilical, ficando este momento dramaticamente fixado a uma experiência de asfixia em que o bebê se encontra desgarrado, desde o princípio, entre a vida e a morte.

Esta é precisamente a grande dificuldade desta Lua: a proximidade entre o nutri e da vida, com a morte e a destruição, será muito intenso na experiência cotidiana como para que a consciência possa distingui-las e as articular em um processo. Todo o meio ambiente afetivo - a “mãe” da criança - manifestará uma impregnação entre a proteção, nutrição, afeto - por um lado - e morte, dor, fusão e poder com sua possibilidade destrutiva - por outro - que estes extremos se identificarão no psiquismo. Assim, de um modo muito peculiar, esta intensa ambivalência ficará associada ao conhecido e esperado, ou ao psicologicamente seguro.

Vamos desenvolver em etapas, a continuação, das múltiplas formas em que podem encenar a presença escorpiana no meio afetivo imediato. Não obstante, falaremos primeiro da experiência mais global, a fim de observar a articulação da psique mais além das anedotas possíveis.

A relação Esporpião-Lua materializa ao redor da criança uma “mãe” de usual poder e intensidade, com que estabelece um vínculo que não encontra impedimento algum para manter-se em um estado de absorção fusiante. Nesta fusão “mãe-filho”, a criança experimenta a máxima ambivalência entre ser tudo para a mãe (família, clã) e, ao mesmo tempo, perder toda a própria identidade, isto é, ficar constituído com o mero desejo deste mundo afetivo que impede toda a diferenciação. Ser absorvido em um desejo diante do qual não há maneira de colocar limites nem de escapar dela, se configurará como padrão emocional básico para essas pessoas. Como na realidade o núcleo e a segurança inconsciente residem na ambivalência que gera essa absorção, o contrataque será uma tentativa de subtração constante da intensidade desse mesmo desejo. Esta modalidade energética da criança - expressada em uma “mãe” que ele percebe desejando tudo dele, até esvaziá-lo - o leva a retrair-se profundamente dentro de si, para que ela não possa tomá-lo por completo. A Lua em Escorpião - enquanto mecanismo emocional - mostrará assim esse duplo movimento de absorção e repulsão simultâneos, bastante difícil de compreender para os demais mas fundamentalmente para quem o vive, quem fica ligado a essa ambivalência.

Qual é a diferença entre esse desejo e o da Lua em Áries?

Recordamos sempre que, para nós, “mãe” simboliza um campo afetivo em que pode ser encarnado por distintas pessoas. O desejo da Lua em Áries é definido, claro e pontual, sempre referido à ação, o campo afetivo deseja algo concreto da criança e este em todos os casos sabe que é o especificamente desejado, por isso se sente invadido e acuada e responde perigosamente. Na Lua em Escorpião, no contato, a criança é o desejado, não se deseja algo objetivo e discriminado e sim, se deseja tudo o que ela é, não sendo, portanto, específico. A criança não pode emergir do estado de fusão com a mãe, que o trata como uma parte de si mesma. Aqui não discriminação alguma a respeito da mãe - família ou clã - e seu desejo: a criança é propriedade desse mundo desejante, ele é esse desejo. Em uma Lua em Áries está implícito a luta e o enfrentamento contra esta atmosfera intrusiva, no qual se pode dizer “não”. De maneira muito diferente, na Lua em Escorpião se joga um desejo envolvente e absoluto diante do qual não existe a possibilidade de um “não” que se possa impor.

Esta Lua pode dar a pessoa um modo reservado, como se sempre estivesse ocultando-se dentro de si?

É necessário compreender que na encenação da energia desta Lua acontecem experiências pelas quais, em um nível inconsciente, aquilo que dá a vida fica identificado com o que dá a morte.

Vou dar um exemplo para que possamos ver melhor. Quando era criança tinha hamisters em minha casa, esse animal apresenta em cativeiro a característica de que a mãe come suas crias. Em uma oportunidade, uma fêmea estava prenha e não cheguei a tempo para salvar os recém-nascidos, de modo que quando voltei para casa já os havia devorado.. no canto da casa onde os mantinha, vi que algo se movia, ali se ocultava uma pequena cria que havia conseguido escapar da voracidade destrutiva da mãe. Esta cena mostra um arquétipo, um padrão de manifestação da Lua em Escorpião em seu modo mais cru e literal. Agora bem, a história não termina por aqui porque, depois de resgatado, se apresentou o problema de como alimentá-lo. Cada vez que lhe dava um pouco de leite, como o cheiro estava associado a sua mãe e em conseqüência com a destruição iminente, o aterrorizava tanto que o impedia de comer. Desta maneira veio a morrer, pela impossibilidade de perceber o que associava com a mãe. Foi necessário dar-lhe leite em um conta-gotas. Isto segue sendo a Lua em Escorpião: se há estabelecida uma associação cruzada entre o nutritivo e o destrutivo, que o leva a proteger-se daquilo que ao mesmo tempo necessita, porque está conhecido como tóxico. O inverso, sendo isso fundamental no desenvolver do mecanismo, aquilo que é realmente intoxicante é percebido como nutritivo e necessário.

9 comentários:

Tavi disse...

muito bom esse post :)

Anônimo disse...

Bom é pouco. Nossa!!! Tem gente que ainda conhece o ser humano????

Lara Moncay Reginato disse...

Obrigada pela participação de vocês!
Abraços.

Unknown disse...

show de bola, voce tambem é formada em psicologia? faz mapas astrais?Beijos LAra

Lara Moncay Reginato disse...

Olá, não sou formada em psicologia, mas adotei essa linha de estudos em astrologia. Há autores como Liz Greene, H. Sasportas e Dane Rudyar que são excelentes, além de outros que constam na bibliografia desse blog.
Faço mapas sim e se quiseres maiores informações entre em contato por e-mail.
Grata,
Lara

Anônimo disse...

Incrível com este é um dos posicionamentos mais fascinantes do meu mapa. Lua em escorpião, ainda conjunta a marte e saturno, não é nada fácil. Os textos deste blog, são um dos mais ricos que já encontrei sobre o assunto. Minha mãe teve dois abordos antes de eu nascer. A questão da nutrição (em sentido amplo) é bem complicada mesmo, desde o útero. Eu nasci bem prematura beirando a terceira morte. Uma vez um astrólogo associou o fato de eu sobreviver ao ascendente (leão). Saturno e marte, que estão conjuntos a lua fazem quadratura ao ascendente, assim como plutão, mostrando as condições. Praticamente todos os posts que li aqui sobre os posicionamentos do meu mapa são interessantíssimos e bem concretos. Muito bom!!

Anônimo disse...

Incrível com este é um dos posicionamentos mais fascinantes do meu mapa. Lua em escorpião, ainda conjunta a marte e saturno, não é nada fácil. Os textos deste blog, são um dos mais ricos que já encontrei sobre o assunto. Minha mãe teve dois abordos antes de eu nascer. A questão da nutrição (em sentido amplo) é bem complicada mesmo, desde o útero. Eu nasci bem prematura beirando a terceira morte. Uma vez um astrólogo associou o fato de eu sobreviver ao ascendente (leão). Saturno e marte, que estão conjuntos a lua fazem quadratura ao ascendente, assim como plutão, mostrando as condições. Praticamente todos os posts que li aqui sobre os posicionamentos do meu mapa são interessantíssimos e bem concretos. Muito bom!!

Lara Moncay Reginato disse...

Grata.

Unknown disse...

Esse texto é do livro do Carutti...seria legal colocar a fonte. Abraço